A nossa lei eleitoral sempre previu e protegeu o princípio da  igualdade. 
Mas, na última década, a Comissão Nacional de Eleições foi,  progressivamente, transformando esse princípio numa regra cega que começa a  ameaçar as próprias eleições, a começar pelas autárquicas de setembro.
A história deste processo conta-se em poucas linhas e é típica  da nossa ordem jurídica, em que as normas se sobrepõem à realidade. É por isso  que, pela primeira vez desde o 25 de Abril, os portugueses não vão ter debates  televisivos nas autárquicas e arriscam-se a ter uma cobertura minimalista de  rádios e jornais.
Durante anos, a CNE tinha uma interpretação relativamente lata  da igualdade entre candidaturas e só apertava muito a malha durante as campanhas  eleitorais. Isso obrigava os órgãos de comunicação social a um cuidado extremo  durante a campanha mas permitia que os critérios editoriais se sobrepusessem a  qualquer regra matemática.
Nada disto impediu que o PRD elegesse deputados, que o Bloco de  Esquerda conseguisse dois lugares no Parlamento ou até que Manuel Sérgio fosse  deputado, só para não ir buscar exemplos mais antigos. Nas autárquicas os  exemplos de candidatos que romperam o poder das forças tradicionais foram  imensos, e ainda bem.
Mas agora a CNE resolve que a igualdade entre candidatos seja  absoluta e que é indiferente estamos em campanha ou pré-campanha. Se alguém  arriscar fazer um debate sem os nove ou oito candidatos que surgiram em muitos  concelhos, será multado. Se alguém fizer uma reportagem em que não ouça todos  esses candidatos, mesmo que sejam irrelevantes ou desprovidos de programa,  idem.
O resultado está à vista, não há debates e a cobertura da  campanha quase desapareceu. Como é normal, ninguém liga a isto. Mas quando  chegarem as legislativas vão acordar para o problema. Alguém acredita que Pedro  Passos Coelho vai estar frente a frente com o líder do PNR? A CNE acha que  sim.
Ricardo Costa, aqui

