Concelho constituído por freguesias rurais,
localizado numa zona do País onde a dimensão das famílias é maior do que a média
nacional.
E onde a taxa de atividade feminina é significativamente inferior. As
mulheres ficam em casa para cuidar dos membros do agregado familiar, sejam os
filhos ou os parentes idosos. Os homens é que vão trabalhar e, cada vez mais,
para fora de Portugal.
Cinfães fica na região do Tâmega, onde as famílias são maiores do que na generalidade do País. Constituído por freguesias rurais, aqui o conceito de família é alargado aos avós. As mulheres ainda ficam em casa para cuidar da família e das terras. Os homens é que vão trabalhar, muitos deles para o estrangeiro.
Cinfães fica na região do Tâmega, onde as famílias são maiores do que na generalidade do País. Constituído por freguesias rurais, aqui o conceito de família é alargado aos avós. As mulheres ainda ficam em casa para cuidar da família e das terras. Os homens é que vão trabalhar, muitos deles para o estrangeiro.
E, neste concelho de Viseu, com 20 mil habitantes e que segue as
tendências de decréscimo da natalidade e de envelhecimento da população
portuguesa, é fácil encontrar casais com cinco e mais filhos. Contam as
dificuldades em alimentar tão grande prole.
"Casei em novembro, fazia 27 anos a 3 de janeiro e "alcancei" logo", conta
Felicidade da Silva, 84 anos.
Significa que engravidou do primeiro dos nove
filhos apenas dois meses depois do casamento, uma criança que não sobreviveu
como era comum nessa altura. Outro morreu já em adulto e tem, agora, sete
filhos, 22 netos e oito bisnetos. Vive em Tendais com a nora Maria José Saraiva,
40 anos, e a neta, já que os homens emigraram para França.
"O meu marido foi o
ano passado fazer as férias de um colega, o patrão gostou muito dele e fez-lhe
logo um contrato efetivo", explica Maria José. Trabalha na construção civil nos
Alpes franceses. E o filho, de 19, reside a 200 km do pai, em Marselha, onde a
tia lhe arranjou emprego nas limpezas. Prometeu que viria fazer a Matemática a
Portugal , disciplina que lhe falta para completar o 12.º ano. "Se houvesse
trabalho aqui, ficavam cá, mas não há!"
Maria José vende bolos com Felicidade, na venda ambulante que esta tem há 32
anos. Também ali está a filha, Inês, de 11 anos. Três gerações de mulheres com a
mais nova a ter dúvidas sobre a continuidade do negócio: "Gostava de ser
cabeleireira." A avó lembra: "Trabalhava na terra de dia e fazia o trabalho em
casa de noite, era muito difícil alimentar os filhos. Depois comecei a fazer
bolos e as coisas melhoraram. A minha filha não quis e fiquei eu!"
Carcaças contadas
Isabel Araújo, 37 anos, não sabe como era o tempo de antigamente, sabe que no
atual as coisas não estão nada fáceis. Tem cinco filhos, quatro raparigas e um
rapaz, entre os 19 e os 11 anos, a última nasceu tinha ela 25 anos. Fez a
laqueação das trompas. Manuel Cardoso,47 anos, bombeiro voluntário, é o pai. É
carpinteiro, mas a falta de emprego levou-o dois meses a Paris, onde não lhe
pagaram o que prometeram em Portugal. Voltou nas férias e procura novo emprego
"aqui ou lá fora".
"Nasceram todos saudáveis, são lindos como os cravos. As raparigas estudam e
o rapaz está nos Sapadores Florestais, tudo se cria, mas é muito difícil. A
minha mulher não tem trabalho, faz umas limpezas", conta Manuel. Recebem cerca
de 120 euros de abono de quatro filhos e pagam 200 euros de casa.
Isabel casou com 17 anos e é ela quem estica o orçamento. "São 20 pães por
dia, mas comiam mais se deixasse, dois a três litros de leite. Nas férias
gasta-se mais porque quando têm escola tomam um suplemento de manhã e almoçam
lá. Se vivêssemos em França não teria problemas com o dinheiro que dão por cada
filho", diz Isabel. Viveu o primeiro ano de casada em Montpellier , tinha 17
anos, e recorda esse como o melhor período da sua vida. França é um dos países
que mais apoia a natalidade e tem o segundo maior índice de fecundidade da UE:
duas crianças por mulher em idade fértil. Em Portugal é 1,28.
Carmen Monteiro, 34 anos, tem seis filhos e também ela é doméstica, "gostava
de trabalhar, mas agora não posso". Seis crianças entre os 2 e os 11 anos. No
próximo ano letivo, apenas a Maria, a mais nova, ficará em casa. Menos tarefas
domésticas e menos bocas para alimentar durante o dia. Também ela acabou por
fazer a laqueação de trompas justificando que não se dava bem com os métodos
contracetivos.
"Gosto muito de crianças, mas nunca pensei ter tantos filhos,
aqui é normal ter três ou quatro e ajudam-se uns aos outros. Mas não é fácil.
Faço quatro a cinco máquinas de lavar roupa por dia. Precisávamos de coisas para
as famílias numerosas, como lojas com roupa em 2.ª mão que há nas grandes
cidades. Por acaso, a Câmara de Cinfães tem uma coisa boa, dá os livros até à
4.ª classe", explica Carmen. Recebe 236 euros de abono por mês, o que não chega
para pagar os 250 euros de renda do apartamento. O marido emigrou em fevereiro
para a Bélgica, para as obras. Fazem 13 anos de casados na segunda-feira.
Céu Neves, aqui