Ao longo dos últimos anos, temos sido surpreendidos pelas mais estapafúrdias explicações tanto para a crise como para a miraculosa forma de sair dela.
A mais célebre será, porventura, a do agora reformado politicamente Vítor Gaspar.
O então ministro das Finanças descortinou que o investimento previsto para o início deste ano foi "adversamente afetado pelas condições meteorológicas" verificadas no país.
Passos, como se sabe, não deu oportunidade ao homem que foi seu braço-direito de terminar o verão para verificar se o calor dos últimos tempos nos desafogava a dívida. Mas nem por isso acabaram as alarvidades na tentativa de recuperar as finanças públicas e, ainda que inadvertidamente, a produtividade e a manutenção de postos de trabalho.
Passos, como se sabe, não deu oportunidade ao homem que foi seu braço-direito de terminar o verão para verificar se o calor dos últimos tempos nos desafogava a dívida. Mas nem por isso acabaram as alarvidades na tentativa de recuperar as finanças públicas e, ainda que inadvertidamente, a produtividade e a manutenção de postos de trabalho.
Desta vez, o contributo surgiu de onde menos se poderia esperar: dos tribunais. O caso foi-nos dado a conhecer pelo "Público" e resume-se assim: uma empresa de Oliveira de Azeméis despediu dois empregados (motorista e ajudante) que se despistaram no camião de recolha de lixo onde trabalhavam.
Tudo porque, após terem sido conduzidos ao hospital na sequência do acidente, verificou-se que o primeiro registava uma taxa de alcoolemia de 1,79 gramas por litro enquanto no ajudante, um imigrante do Leste europeu, esse valor se elevava a 2,3 gramas/litro. A empresa justificou o despedimento por achar que os funcionários violaram as normas de higiene e de segurança no trabalho. É uma posição, convenhamos, não totalmente desprovida de sentido.
O caso, que entretanto tinha seguido para tribunal, teve agora mais um episódio. A Relação do Porto acaba de ordenar a integração do ajudante com uma explicação no mínimo bizarra. Sustenta o tribunal que o trabalho dos dois funcionários apanhados a laborar zonzos "não é agradável". E que, por isso, "com álcool, o trabalhador pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais", no caso, a carregar lixo. Ébrio - continua a argumentação judicial -, o funcionário "é muito produtivo". Nesta época, em que o desemprego atinge níveis absurdos, faltou ao tribunal socorrer-se do slogan salazarista e lembrar que "beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses".
Esta argumentação judicial não é perigosa por possibilitar o regresso ao trabalho de um prevaricador. Todo o homem, quer aprecie mais ou menos copos, tem direito a uma segunda oportunidade. Preocupante é justificar o perdão com as agruras da vida e com o facto de um determinado trabalho ser mais ou menos agradável.
Até porque tenho para mim que pilotar um A380 de Frankfurt a Tóquio pode apresentar-se por vezes bastante chato. E levar o AVE de Madrid a Barcelona também não será sempre pera doce. E até em algumas sessões judiciais bastante monótonas haverá magistrados com agruras na vida a decidir sobre o futuro de homens e mulheres.
Retirada daqui