sábado, 27 de julho de 2013

PENAS E PAVÕES


Os equilíbrios governamentais passampor distribuir plumagens especiais, acalmando vaidades e buscando equilíbrios.

Os mais velhos lembram-se certamente dos clássicos filmes de cowboys em que quanto mais importante era o índio mais penas ostentava no alto da cabeça.

A plumagem era um sinal da importância relativa de cada um na respectiva tribo enquanto organização social, o que não era sequer inédito, pois verificava-se o mesmo na generalidade das sociedades castrenses conhecidas.

Há de resto exemplos sem fim noutras áreas de actividade do ser humano que misturam a necessidade de mostrar a hierarquia aliada ao poder e, porque não dizê- -lo, à vaidade intrínseca. A justiça e o mundo académico com os seus trajes simbólicos demonstram-no.

Entre nós vemos hoje em dia uma moda lusitana que leva a que na função política haja a imperiosa necessidade de fazer distinções entre entidades que supostamente estão ao mesmo nível. A máxima de que há uns que são mais iguais que outros está plenamente aplicada, com mais esta originalidade nacional.

O exemplo do governo é elucidativo. Ele há vice-primeiro-ministro e ele há ministros de Estado aos molhos; ele há ainda um ministro da Presidência, por definição histórica também especialmente importante; ele há um ministro adjunto do primeiro-ministro e ele há por fim o ministro? Sim, simplesmente ministro e já nem sequer superministro, que é chão que deu uvas com o emagrecimento dietético das estruturas sobre as quais assentava o título e que, lamentavelmente, regressaram agora a figurinos singelos para não dizer pindéricos. 

Uma tristeza!

Estas distinções e arranjos nada têm a ver com eficácia, uma vez que resultam directamente do arranjo político feito para manter equilíbrios entre os partidos e as forças de influência que integram e suportam o governo, recorrendo-se para esse efeito à distribuição de plumagens especiais que distingam cada um.

É tal a nova profusão nobiliárquica que praticamente só falta inventar a categoria redundante de secretário de Estado de Estado e de primeiro-ministro de Estado, passando o número dois para primeiro-ministro singelo ou simples e assim por diante.

O facto é que com a designação de dois ministros de Estado, ao jeito com que no final da monarquia se distribuíam títulos (foge cão que te fazem barão, mas para onde se me fazem conde?), Passos Coelho aparenta compensar aos olhos do PSD a relevância que optou por dar a Paulo Portas e ao CDS, a que entregou todas as pastas da concertação social para que os centristas se desembrulhem em vez de falarem de poleiro.

Para si próprio guardou a tarefa ciclópica de coordenar toda a gente, de actuar na área da cultura, que tutela directamente, e no controlo orçamental, onde tem o apropriado Moedas, além de estudar dossiês com uma profundidade que lhe permita responder sem hesitar a qualquer oral de Cavaco Silva, que é, como todos sabemos, um autêntico picuinhas.

Embora todas estas circunstâncias pareçam ser reais e possam ser tidas como fruto de um verdadeiro "marchandage" político, haverá sempre que admitir que tudo isso não passe de uma interpretação abusiva e distorcida que o Dr. Machete consideraria algo que espelha a podridão dos hábitos políticos. E disso Deus nos livre! Cruzes canhoto!

Eduardo Oliveira e Silva, aqui