Portugal está imprevisível,
vive na expectativa, desde o dia (10) em que o Presidente da República (PR),
surpreendeu tudo e todos.
Em linhas gerais, não aceitou a remodelação do
governo, antes o humilhou, ficando tudo como antes de Portas anunciar a sua
birra que deu no que deu. Pior: o governo está em exercício, mas pô-lo a prazo,
retirando-lhe força.
Se já não gozava de muita credibilidade, ficou com menos,
quando ainda tem tanto para fazer, incluindo a difícil reforma do Estado que
continua um monstro devorador, até a nível de autarquias.
Aliás, colocou
os partidos que assinaram o memorando da Troika entre a espada e a parede, ao
anunciar que, se não conseguirem entender-se, tem nas mãos outra bomba atómica,
outra solução de que nada disse: governo de iniciativa presidencial?
Como economista que é, na
pressa de aparecer como o salvador da Pátria e recuperar também a credibilidade
perdida, esqueceu que, neste tempo de crise política, tempo é dinheiro. Se a
Europa, com o anúncio da remodelação do governo, teve alívio e fez logo
elogios, fazendo recuperar a bolsa e baixar os juros da dívida, o discurso de
Cavaco fez tantos estragos como a burrice de Portas.
A Europa ficou na
expectativa, não teve um elogio. Apercebendo-se dos nefastos efeitos e para
acelerar, o PR pôs de lado o medianeiro anunciado e força um acordo rápido,
coisa difícil: o PS exige à mesa o BE e o PCP (que já disseram não), enquanto
Portas exigirá ser vice e Passos cumprir o mandato. Interesses contraditórios.
Pode mesmo acontecer que o PR não consiga o milagre do acordo (claro, culpará
os partidos, lavará as mãos, mas ficará com a crianças braços), prolongando a
crise de que será também responsável.
Para já, veio agravá-la. Esperemos pelo
resto. Há inúmeros obstáculos a vencer, imaturidade nos actores, interesses que
os partidos sobrepõem aos do país. Oxalá venha aí a salvação.
Reze-se muito ao
Senhor do Bom Fim…
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 18 de Julho de 2013