segunda-feira, 1 de julho de 2013

MEMÓRIA CURTA


Vivemos com a propensão para pedir o que não queremos

A nossa memória é demasiado selectiva e leva-nos com muita facilidade a cometer os mesmos erros num curto espaço de tempo. O desejo de viver nos melhores dos mundos faz-nos acreditar que basta ter vontade para que as coisas aconteçam.

Vamos lá avivar a memória com os traços gerais desta crise que começou, em 2008, do outro lado do Atlântico, com contágio rápido ao sistema financeiro global. Chamava-se crise do subprime e levou os governos da Europa e da América a decidir que era preciso despejar dinheiro nas economias que arrefeciam a um ritmo frigorífico.

A partir dessa cura, as coisas aqueceram de tal modo que, quando a generalidade dos génios políticos e económicos se lembraram dos efeitos secundários, já a crise das dívidas soberanas se tinha instalado como lapa agarrada às rochas. Mas também aí os doutores da globalização encontraram uma solução milagrosa que começou pouco depois a revelar efeitos secundários graves. Já devem andar à procura de cura para a nova crise global, que é claramente a crise do emprego, ou melhor, a crise do desemprego, embora não se saiba muito sobre a matéria porque andam todos com medo de tomar decisões.

A memória a que apelo é a que nos dá conta de que todas as curas que nos apresentaram desde a primeira crise em 2008 têm tido efeitos secundários gravíssimos. Seria bom pensar muito bem antes de decidirmos o que é que queremos pedir aos nossos dirigentes, nacionais e europeus. Entrar pelo caminho fácil de pedir um novo despejo de dinheiro na economia para criar emprego pode ser começar tudo outra vez. Regressar ao fim da primeira década deste século como se nada de grave aí tivesse acontecido é ter a memória demasiado curta.

A memória exercitada, para que não se perca nada de essencial do que se passou no passado recente, permite-nos olhar para o presente e ver com clareza que as coisas também não estão bem. Nada bem. A crise económica que virou crise financeira e que voltou a ser económica trouxe de arrasto uma grave crise social. Aqui e em muitos outros países da Europa.

O que a memória também nos ajuda a perceber é que a pior das soluções é a que prometer a cura mais rápida. Pode custar muito a admitir, mas serão precisos vários anos para criar um crescimento sustentável. 

Aqui e em muitos países da Europa.

Por cá devemos insistir com o Governo para ter bom senso. Ouvindo a rua, a oposição, o Presidente, os parceiros sociais e alguns dos seus próprios militantes, não pode ser assim tão difícil perceber que o rigor orçamental tem de ser acompanhado de políticas mais amigáveis do investimento. Não estaremos a pedir nada que a memória nos diga que vai resultar num desastre.

Paulo Baldaia, aqui