O que se passou, na última
semana, a nível do governo, era impensável e nenhum comentador político (há
comentadores televisivos a mais e seriedade a menos), foi capaz de prever uma
situação destas, a roçar ora o trágico, ora o caricato.
Primeiro, foi a
demissão de Gaspar, invocando falta de coesão; depois, foi uma das birras de
Portas com a decisão “irrevogável” do pedido de demissão, que apanhou toda a
gente de surpresa, a começar pelo próprio partido e a acabar em Cavaco que, na
tarde desse mesmo dia, dava posse à nova ministra Maria Luis Albuquerque e a um
secretário de Estado do CDS-PP.
Uma grande trapalhada e da parte de Portas um
perfeita garotice, tem que ser dito, depois de tantas declarações de amor ao
país, mas com um velho pecado capital: sempre quer andar nas ondas do
protagonismo, a sede de poder é imensa. Com o seu leviano pedido de demissão,
que Passos não levou a Cavaco, o que o irritou solenemente, os mercados
reagiram negativamente: as bolsas tiveram forte queda, os juros da dívida subiram,
o país andou para trás, perdeu parte da credibilidade que tinha conquistado.
Esta tonta decisão foi de uma
atroz irresponsabilidade, (falta gente de cabelos brancos no governo, no
parlamento, na política), mas também Passos tem graves culpas no cartório. Destratava
o partido e o colega da coligação, menorizando Portas. Ambos são responsáveis
por esta perigosa burricada. O governo não cai na rua, por força das greves,
manifestações, insultos, ou da histeria do PS que quer eleições todas as semanas.
Não por força das forças de bloqueio constante do BE e do PCP que logo convidou
a malta para vir para a rua. Se o governo não cai agora, cai logo, é a sua
aposta. O ímpeto foi-lhes entretanto quebrado com Passos a anunciar a
possibilidade de juntar os cacos e criar novas condições para um governo mais
estável.
Foi uma semana alucinante para doidos políticos, mas foi encontrada
uma solução, já apresentada a Cavaco, que tem a palavra final e um grande puxão
de orelhas a dar. Será o último perdão. Entre as várias soluções (reformulação
do governo, eleições, um governo incluindo o PS, que não está para aí virado),
a solução, na nossa óptica, menos má será a primeira. D. Manuel Clemente, novo patriarca
de Lisboa, vai também por aí.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 11 de Julho de 2013