Maria Luís Albuquerque protagoniza um velho problema moral da política
portuguesa? Sim.
A tradição a que me refiro não está, porém, na mentira que ela
terá dito numa Comissão Parlamentar de Inquérito (aparte: peço desculpa, mas não
vou escrever, hipocritamente, frases como "ter faltado à verdade" com que os
políticos e os analistas bem comportados, cínica e politicamente corretos, têm
descrito este problema).
Isso é, de facto, novo, mas não modifica o problema moral em si: quem mente
de forma oficial aos representantes do povo não pode exercer funções oficiais em
representação desse povo. Há muito que esta relação está apreendida e o
resultado lógico e coerente desse entendimento seria a decorrente demissão de
Maria Luís, exigida pelos partidos de oposição.
O que é novo, do ponto de vista moral, vem agora: não fosse este caso
suscitado numa altura em que os dirigentes do País hipotecaram a sua própria
conduta ao que entendem ser a satisfação das necessidades da crise e,
obviamente, a senhora ministra já não o era. Este falso estado de guerra
desculpa tudo, como verificámos nas últimas semanas. Aquilo que antes da crise
era condenável passou agora a ser um serviço prestado ao País... Os governantes
perderam a vergonha e as consequências serão desastrosas para o regime.
Voltemos ao que é velho, ao que motivou esta crónica: o tradicional problema
moral da política portuguesa, que se revela, mais uma vez, com as swap e, antes,
se evidenciara com as PPP, o BPN, a traficância política de empregos em empresas
públicas e, até, privadas, certas gestões de certas empresas públicas e
municipais e inúmeras outras tropelias.
Estes escândalos ocorrem sempre pelos
mesmos dois motivos - pessoal político que quer gastar dinheiro sem ser
democraticamente controlado e pessoal financeiro sempre disposto a criar
condições para isso, garantindo, no final da linha, proveitos anormais, pagos
pelos contribuintes.
Este sim é o velho problema moral: a política que se verga ao dinheiro.
Melhor do que discutir na Assembleia da República a moral da ministra Maria Luís
seria debater a forma de pôr um fim a esta promiscuidade que, em última análise,
criou a crise onde todos sofremos. Mas, por aí, haveria muito moralista que
sairia a perder.
Pedro Tadeu, aqui