A causa primeira da profunda crise política em que estamos mergulhados não está na fragorosa saída de Vítor Gaspar de um Governo que ele chegou a ter na palma da mão, como não está no estrondoso pedido de demissão de Paulo Portas, como não se encontra no equilibrismo político sem rede que se seguiu a estes eventos.
A grande causa desta crise, cuja extensão não tem paralelo na história da democracia portuguesa, está nas causas das decisões de Gaspar e Portas: o tremendo falhanço das políticas que resultaram do memorando de entendimento com a famigerada troika.
Se as causas não forem atacadas, as consequências para os portugueses aumentam em grau considerável, até à exaustão. Foi por isso que o ex-ministro das Finanças regressou ao conforto do Banco de Portugal. Foi por isso que o líder do CDS-PP tentou tirar mais um coelho da cartola.
Se as causas não forem atacadas, as consequências para os portugueses aumentam em grau considerável, até à exaustão. Foi por isso que o ex-ministro das Finanças regressou ao conforto do Banco de Portugal. Foi por isso que o líder do CDS-PP tentou tirar mais um coelho da cartola.
A grande virtude da intervenção do presidente da República é justamente esta: abre espaço (quase impõe a ocupação desse espaço, em boa verdade) para que os partidos do arco da governação (e outros que vejam utilidade no exercício) se sentem à mesa com o intuito de alcançar uma plataforma de entendimento suficientemente sólida que lhes permita, em conjunto, adaptar as exigências do memorando assinado com a troika às reais capacidades do país.
No momento em que se conhecer a verdadeira extensão do descalabro (e Cavaco terá, pela certa, boa informação sobre o estado das contas do país), esta necessidade será uma obrigatoriedade.
Se nada disto acontecer, voltaremos ao poço da morte, de onde, em bom rigor, nunca saímos: andaremos às voltas, às voltas e às voltas até à curva fatal, aquela que se faz sem mãos no guiador, de olhos vendados e com fé em Deus.
Seria um erro crasso não sentar os parceiros sociais à mesa das negociações. O cachimbo da paz não pode, não deve, ser fumado apenas pela parte mais enfraquecida deste processo: os partidos políticos. Alargar o espetro do entendimento é fundamental. Para o presente e para o futuro.
Verdade que o discurso do chefe de Estado foi, em certas partes, suficientemente hermético para permitir entendimentos vários e entrever putativas saídas. Mas há naqueles 15 minutos de conversa bombástica pontes suficientes para alargar o consenso pedido até uma espécie de pacto de refundação do regime.
Se partidos e parceiros sociais forem capazes de se entender no curto prazo (a questão da troika), devem também ser capazes de se entender em torno do médio e longo prazo, de modo a mexer nas áreas do Estado que travam o crescimento e a competitividade, que acrescentam deveres sem aumentar direitos.
Que, numa palavra, mexam nas fundações do regime, cujas insuficiências estão provadas à saciedade.
Retirada daqui