quarta-feira, 5 de junho de 2013

PROVAS DE VIDA

António José Seguro e Carlos Silva estão a marcar terreno cada um no seu espaço.

É assim a política. Obriga a que regularmente se faça prova de vida. António José Seguro, por um lado, e Carlos Silva, secretário-geral da UGT, por outro, estão nessa circunstância, embora por razões diferentes.

Seguro não esteve por opção na reunião das esquerdas promovida por Mário Soares, mas, no cumprimento da sua estratégia, tem de se mexer um pouco até às autárquicas e às europeias para que o poder lhe caia no colo nas legislativas (antecipadas ou não) sem que tenha de exceder-se em promessas ao eleitorado e assumir compromissos partidários definitivos.


Seguro percebe que tem de trilhar o caminho de Sócrates e de Guterres no propósito de chegar o mais perto possível da maioria absoluta. Se conseguir, muito bem. Se não conseguir, tudo depende dos resultados dos outros. Por exemplo, fazer ou não maioria com o CDS não é indiferente. Se fizer, tanto pode virar-se para a direita como para a esquerda ou, no limite, procurar governar em minoria.

Esta navegação à bolina é naturalmente um exercício difícil, mas Seguro é um político experiente e é natural que com este sistema consiga levar o PS a um destino aceitável para os seus propósitos governativos, e é nesse quadro de não rupturas que se deve interpretar a ronda de contactos que está a fazer com os outros partidos.

Quanto a Carlos Silva, o seu problema é diferente. Recém--chegado à liderança da UGT tem de afirmar-se. Nada melhor para isso que criar uma aliança pontual com a CGTP e promover uma greve geral que fatalmente terá de ser conjunta, uma vez que se fosse só da UGT não se daria por ela.

A promoção da greve é portanto meramente instrumental, até porque o verdadeiro poder da UGT não está no mundo do trabalho e na mobilização popular. A UGT tem, sim, uma força decisiva e grande na Concertação Social, na negociação directa com o governo e com os patrões, bem como, obviamente, influência interna no PS e, embora menos, no próprio PSD.

Nos jogos da política, a fase de afirmação ou de reafirmação de protagonismo é sempre um momento importante, como se pode constatar pela análise do próximo percurso destes dois dirigentes.

Benvindo à Terra, Dr. Mateus
Com rara oportunidade e elementos essenciais para a compreensão do muito que aconteceu a Portugal e das causas de estarmos arruinados, a Fundação Francisco Manuel dos Santos encomendou e divulgou um estudo sobre a aplicação de fundos europeus em Portugal.

O trabalho foi coordenado por Augusto Mateus e pôs à vista uma série de desperdícios e projectos inúteis e outros (raros) efectivamente estruturantes e fundamentais.

Mas não é isso que vem ao caso agora. O que se deve saudar é que Augusto Mateus, com os elementos que certamente analisou, deve estar agora plenamente habilitado a fazer uma introspecção crítica de decisões por ele próprio tomadas.

Mateus foi ministro da Economia de Guterres e antes foi seu secretário de Estado. Esteve, portanto, no miolo do governo mais despesista de que há memória em Portugal, atirando dinheiro para cima de todos os problemas sem resolver praticamente nenhum.

Veremos se na peugada de Guterres, e agora com tantos dados na mão, não virá também fazer o seu acto público de contrição governativa. As matérias profissionais referentes à consultoria ficam naturalmente fora dessa possibilidade...

Eduardo Oliveira e Silva, aqui