O governo reuniu,
informalmente, no mosteiro de Alcobaça, a fim de assinalar os dois anos da
tomada de posse e debater a reforma do Estado.
Não é coisa fácil, dada a crosta
dos interesses, também corporativistas, entranhados no sistema, na engrenagem
que é difícil de desmontar, sem dores e algum sangue. Há muito que se ouve
falar de menos Estado.
Aliás, o governo poderia dar sinais disso mesmo, ficando
por Lisboa e fazer o que foi fazer a Alcobaça, nada ou quase nada. A entrega do
guião da reforma contendo as linhas mestras, estudadas por Portas, a Passos,
não merecia tanta pompa e circunstância, nem a sala do capítulo do mosteiro.
Tivesse Passos e Gaspar
começado ao contrário, por cima e não por baixo, castigando sempre os mesmos,
os de mais baixos rendimentos, esbulhando os pensionistas e desfazendo nos
funcionários públicos, como os vilões do sistema; tivesse o governo acompanhado
os bárbaros cortes com medidas de ordem económica e outro galo cantaria a esta
hora.
Ainda que Mário Soares continuasse obstinado em derrubar o governo, com
declarações à guisa da I República, de manhã, ao meio-dia e à noite, e Seguro,
com a obsessão de subir ao palco, para tudo continuar na mesma, dissesse a
mesma coisa por outras palavras. A política portuguesa hoje é um terrível
embuste, uma demagogia pegada de gente sem carácter, mentirosa, às vezes
canalha.
Não era preciso tanto para tão pouco. O país ficou a saber o mesmo,
apenas Poiares Maduro declarou pouco mais do que isto: houve “uma reflexão viva
e muito franca” e que o governo, estabilizada a situação financeira, “está
agora numa situação de oferecer esperança aos portugueses”. ~
Apesar de todos os enganos,
queremos acreditar, mais uma vez, que assim seja.
Para bem do país.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Junho de 2013