quinta-feira, 27 de junho de 2013

EXCURSÃO A ALCOBAÇA


O governo reuniu, informalmente, no mosteiro de Alcobaça, a fim de assinalar os dois anos da tomada de posse e debater a reforma do Estado

Não é coisa fácil, dada a crosta dos interesses, também corporativistas, entranhados no sistema, na engrenagem que é difícil de desmontar, sem dores e algum sangue. Há muito que se ouve falar de menos Estado. 

Aliás, o governo poderia dar sinais disso mesmo, ficando por Lisboa e fazer o que foi fazer a Alcobaça, nada ou quase nada. A entrega do guião da reforma contendo as linhas mestras, estudadas por Portas, a Passos, não merecia tanta pompa e circunstância, nem a sala do capítulo do mosteiro. 

Nem sequer a ginja com que foram obsequiados pela câmara. Tudo isso não configura senão mais despesa, folclore, cada um dos ministros deslocando-se em seus bons carros, não configura senão uma excursão de ministros em fim-de-semana. Ainda se o convento, de paredes austeras, servisse de espaço de reflexão sobre os erros cometidos ao longo destes dois anos, que para muitos portugueses são séculos de esforço e perda, de magreza e de fome, de dor e raiva! Reconhecer os erros é pelo menos uma virtude. 

Tivesse Passos e Gaspar começado ao contrário, por cima e não por baixo, castigando sempre os mesmos, os de mais baixos rendimentos, esbulhando os pensionistas e desfazendo nos funcionários públicos, como os vilões do sistema; tivesse o governo acompanhado os bárbaros cortes com medidas de ordem económica e outro galo cantaria a esta hora. 

Ainda que Mário Soares continuasse obstinado em derrubar o governo, com declarações à guisa da I República, de manhã, ao meio-dia e à noite, e Seguro, com a obsessão de subir ao palco, para tudo continuar na mesma, dissesse a mesma coisa por outras palavras. A política portuguesa hoje é um terrível embuste, uma demagogia pegada de gente sem carácter, mentirosa, às vezes canalha. 

Não era preciso tanto para tão pouco. O país ficou a saber o mesmo, apenas Poiares Maduro declarou pouco mais do que isto: houve “uma reflexão viva e muito franca” e que o governo, estabilizada a situação financeira, “está agora numa situação de oferecer esperança aos portugueses”. ~

Apesar de todos os enganos, queremos acreditar, mais uma vez, que assim seja. 

Para bem do país.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 27 de Junho de 2013