quinta-feira, 27 de junho de 2013

A PALHAÇADA DAS AUTÁRQUICAS

Os meus amigos mais chegados, onde se incluem alguns familiares, conhecem há muito o meu gosto (eles dirão talvez a minha mania) de fazer apostas, por tudo e por nada

Bem, este por tudo e por nada já sou eu a deixar-me influenciar por eles, já que o meu gosto por apostas tem para mim uma razão de ser mais séria e que não é compatível com qualquer tratamento mais pejorativo.


Curiosamente este meu gosto fica-se pelas apostas particulares, não se estendendo ao vastíssimo campo das apostas oficiais ou através da Internet, em sites superespecializados na matéria. Como também nunca recorri àquelas agências de apostas em que é possível apostar as coisas mais mirabolantes do Mundo, como a cor da roupa interior da princesa tal na festa tal e tal, ou quem é que vai ganhar um jogo da terceira jornada da terceira divisão do campeonato de kung fu na Coreia do Sul.

Os que me conhecem também não me desmentem se vos disser que ninguém me apanha a apostar aquilo de que tenho a certeza absoluta, contra um ignorante ou distraído que teima em não ver o óbvio.

Devo confessar que tenho ganho uns bons jantares à conta das vitórias do F. C. Porto, como ainda este ano aconteceu, e já sei que alguns mais ferrenhos vão querer incluir estas apostas na última classe que referi, mas não vale a pena exagerar.

Tal como existem os famosos desbloqueadores de conversa, também existem os bloqueadores de discussões e é exatamente para esse fim que eu recorro às apostas.

Se pensarmos no futebol, é fácil de entender. Depois de estarmos meia hora a tentar convencer o outro de que o FCP de Paulo Fonseca vai ser muito melhor que o Benfica recauchutado do Jorge Jesus cabelo aparado, a melhor forma de acabar o tema e mudar de assunto é fazer uma aposta sobre quem vencerá o próximo campeonato. Ou quem chegará mais perto de vencer a Champions em pleno Estádio da Luz, que é uma aposta premium! Adivinhem em quem já apostei...

É evidente que quando aposto tento não o fazer à toa, só por birra, procurando, isso sim, apostar naquilo em que acredito com muita força. Claro que às vezes confundo o que quero com muita força com aquilo em que acredito e normalmente são essas as vezes em que perco. Aqui está a deixa que eu esperava para dar o pontapé de saída para o verdadeiro tema da crónica.

Falando das próximas autárquicas, mal se percebeu que até na comunidade jurídica existiam diferentes interpretações sobre a lei de limitação dos mandatos, logo me pareceu que seria inevitável que o Tribunal Constitucional fixasse a interpretação a seguir por todos os tribunais abaixo de si. Acontece que expendi esta opinião num almoço em que um dos meus melhores amigos resolveu dizer que eu era tolinho. Palavra puxa palavra, foi necessário lançar mão do meu bloqueador de discussão para poder acabar de almoçar em paz.

Nesta altura de que vos falo, estávamos em fevereiro e apostei que até ao fim de maio, um bocado antes do prazo limite para formalização das candidaturas, nenhum Estado de direito do mundo ocidental seria capaz de permitir que as regras dessas eleições não fossem claras para toda a gente.

Quase um mês depois de eu ter perdido a aposta, que por acaso ainda não paguei, mas vou pagar, estamos perante esta situação caricata que o dr. Fernando Seara realçou muito justamente. Impedido de se candidatar a Lisboa por decisão judicial, poderia no entanto fazê-lo no Porto, em Aveiro, na Guarda ou em Faro, onde outras decisões judiciais foram de sentido inverso.

Irá o Tribunal Constitucional, sempre tão ciente dos seus pergaminhos e da sua autoridade, continuar a assobiar para o lado, permitindo esta palhaçada?

Retirada daqui