quarta-feira, 29 de maio de 2013

SER BENFIQUISTA

A turma teve de fazer uma composição. Tema livre

No final da aula, quando estava a recolher as redações, a professora reparou que a do Joãozinho não tinha título e perguntou-lhe porquê. "Porque é sobre o Benfica", respondeu o miúdo.

Passou-me pela cabeça chamar palhaço magrebino ao presidente da República, ou ao do Benfica, ou até mesmo ao da EDP, a ver se ganhava uma notoriedade mediática e visibilidade nas redes sociais idêntica à da simpática dupla de comentadores da Benfica TV. Mas desisti logo da ideia.


Primeiro, porque se tratava de objetivo irrealista - mais depressa acertava no Euromilhões... Depois, porque ao pôr-me em bicos de pés corria o risco de ser olhado como um imitador rasca de líderes de opinião tão credenciados como o Sousa Tavares ou o Abreu Amorim. Por último, porque fui educado a não abusar dos mais fracos e a não malhar nos que estão na mó de baixo.

Fiquei muito satisfeito comigo mesmo por ter desistido da ideia peregrina de chamar palhaços magrebinos a três benfiquistas (Cavaco, Vieira e Mexia). Em alternativa, resolvi partilhar uma anedota (tristezas não pagam dívidas, caros amigos benfiquistas) divertida (e que por isso não ofende) a abrir esta crónica, com que pretendo ajudar seis milhões de compatriotas a retirar as lições adequadas destas três semanas horríveis que estão a viver.

Dispenso, por julgar desnecessária (pois presumo já ter sido aprendida), a primeira lição, que consta aliás da letra da canção "É só um pouco mais de azul", escrita pelo Carlos Tê e interpretada pelos Moderados de Paranhos: "Há muito quem beba do fino/e coma em pratos de marfim/a gente primeiro come a relva/e faz a festa no fim".

Tchekhov ensinou-nos que errar é humano mas ainda é mais humano atribuir aos outros a responsabilidade pelos nossos erros. É por isso bem humana a tentativa de atirar para cima de árbitros e do sistema a culpa pela perda de um campeonato nacional que já julgavam ganho. É humano, mas improdutivo. Assim não vão lá. Têm de aprender com Confúcio que não corrigir as nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros.

Mas o mais perigoso estado de espírito benfiquista foi o que esteve em vigor na terrível dúzia de dias que separou as finais de Amesterdão e do Jamor. Inebriada pela exibição frente ao Chelsea, a nação benfiquista, desde o seu estado- -maior até ao Barbas, passando pelo taxista Máximo, regrediu até ao tempo das vitórias morais e deixou-se embalar por uma euforia doce, mas imoderada e injustificada.

Felizmente que a derrota de domingo interrompeu um sonho marcado pelo elogio do fracasso, que ao transformar-se em pesadelo trouxe de volta à realidade seis milhões de compatriotas.

A cena de Cardozo, a contestação a Jesus, a revolta dos adeptos que querem vitórias reais, não morais, é uma bênção, pois permite aos benfiquistas acordarem e perceberem que o fracasso é"uma coisa má e que, por isso, não deve ser elogiado nem celebrado. Só a vitória é triunfal. E não basta estar nas decisões. É preciso ganhá-las.

Retirada daqui