quinta-feira, 16 de maio de 2013

O DETESTADO


Depois da saída de Miguel Relvas do Governo, os ataques centraram-se em Vítor Gaspar


Era previsível. Mas não deixa de ser ridículo. Compreendo que os colegas de Gaspar no Governo o detestem.

Que Álvaro Santos Pereira, Paulo Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Nuno Crato ou Miguel Macedo não possam com ele, e que os ministros do CDS o considerem o inimigo número um.


Não é possível gostar de um colega de equipa que lhes nega, uma após outra, as pretensões, dizendo friamente: «Não há dinheiro!».

Ou que os obriga a fazer cortes que já não se limitam às gorduras mas à própria carne.

Também compreendo que muitos portugueses não gostem dele – porque o vêem como o cobrador de impostos, o homem do fraque.

Quem não se lembra dos ódios que suscitava, dentro e fora do Governo, Manuela Ferreira Leite quando era ministra das Finanças de Durão Barroso?

E das pressões que teve de suportar o ministro das Finanças de Sócrates, Teixeira dos Santos, não apenas dos outros ministros mas do próprio primeiro-ministro (que não queria que ele revelasse a verdadeira situação do país, chegando ao ponto de cortar relações com ele e não voltar a dirigir-lhe a palavra)?

Este período está muito bem descrito no livro Resgatados,de David Dinis e Hugo Filipe Coelho.

Por definição, o ministro das Finanças é o mau da fita.

Tem um papel ingrato, do qual ninguém gosta, porque é muito desagradável estar constantemente a dizer que não.

Mas alguém tem de desempenhar este papel – sob o risco de os países irem à falência.

Entretanto, se é natural que os companheiros do Executivo e muitos portugueses não gostem de Vítor Gaspar, já compreendo menos bem as críticas de muitos comentadores.

Porque eles sabem (ou deviam saber) que a grande luta que Portugal trava neste momento é entre a ‘exigência’ e o ‘facilitismo’.

Durante muito tempo vivemos sob o signo do facilitismo, gastando muito mais do que podíamos, e a partir de agora temos de viver sob o signo da exigência.

E quem será o primeiro guardião da exigência?

Por natureza do cargo, tem de ser o ministro das Finanças.

Para o bem e para o mal, o rosto da exigência em Portugal, neste momento, é Vítor Gaspar.

Mas há mais. Como gestor das finanças públicas, o titular da pasta das Finanças é o guardião do nosso dinheiro.

E ninguém gosta que o seu dinheiro seja mal gasto.

Portanto, quando se diz que Gaspar é um sovina, é um forreta, é um unhas-de-fome, isso deveria ser visto como um elogio e não como uma crítica.

Criticado deveria ser o ministro se fosse um mãos-largas, um esbanjador, não cuidando devidamente de um dinheiro que resulta da contribuição de todos nós.

Que muitos cidadãos não vejam esta evidência, ainda se compreende.

Mas que os comentadores não o entendam, é mais difícil de perceber.

Dizer ou escrever que o ministro das Finanças deve sair por ser ‘impopular’ é uma coisa perfeitamente ridícula.

O ódio aos ministros das Finanças, em todo o mundo e em todas as épocas, é dos livros.

O ministro das Finanças é, por definição, impopular – e, quando tal não acontece, é caso para desconfiar.

Cavaco Silva sabe-o melhor que ninguém, até porque já ocupou o cargo.

Por isso, tem pedido a Gaspar para se manter no seu posto.

O Presidente tem a perfeita noção de que a saída de Gaspar do Governo seria um sinal péssimo, do ponto de vista interno e externo.

Do ponto de vista interno, equivaleria a dizer: «Agora, que o tipo foi corrido, já podemos gastar à vontade».

Do ponto de vista externo, levantaria a suspeita: «Por que razão os tipos mandaram embora um ministro duro e exigente? Quererão voltar ao passado de facilitismo e esbanjamento?».

E isto seria especialmente grave numa altura em que a troika está com um pé no estribo para sair do país, e 

Portugal precisa de voltar aos mercados.

Aliás, o resultado da emissão de dívida da semana passada mostra que o país está no rumo certo.

José António Saraiva, aqui