terça-feira, 28 de maio de 2013

ERA UMA VEZ...

O OVO DE CODORNIZ
Esta é uma história antiga. Ao contá-la, torno-a nova


Era uma vez um fidalgo de quem o rei se arredara por intrigas na corte. Diz-se que diz-se, diz-se o que não se disse e por picuinhas que tais, o rei, amuado com o fidalgo, nunca mais o chamara para o conselho do paço. 




Acontecia também que este fidalgo tinha em alguma má conta um criado seu. Suspeitava que ele fosse um badalo de sino ou caixa de rufo de tudo o que se passava paredes adentro. Para avaliá-lo melhor, experimentou-o como vão já saber. Ora escutem. 



Numa manhã, deixou no meio dos lençóis da cama, onde dormira, um ovo de codorniz. O criado, quando veio arrumar o quarto, deu com o ovo e foi dizer ao amo. Este, dando ares de grande mistério, segredou-lhe: 
- Fui eu que o pus, a noite passada, com muito custo. Mas não contes a ninguém, senão os vizinhos começam a espalhar a novidade e não tarda aí o rei, para conhecer de perto o que se passa. 



O criado prometeu segredo, mas, ao chegar à rua, encontrou um criado de outro fidalgo e chamou-o de parte. 
- Não dês com a língua nos dentes, mas o meu patrão a noite passada pôs um ovo, mais grado do que ovo de pata. 



Segredos destes estoiram por todos os lados. Crescem como urtigas em chão lavrado. 



No dia seguinte, bateram, de manhã cedo, à porta do palácio do fidalgo. Era o rei em pessoa, mais o seu séquito. 
- Venho ver esse prodígio de homem que põe cem ovos por dia, maiores do que ovos de perua. 



O fidalgo trazia na palma da mão o ovo de codorniz que mostrou ao rei: 
- Vede, senhor, como uma pequena mentira cresce tanto, até chegar ao paço de Vossa Majestade. 


E contou ao rei o princípio da história, que o fim já ele sabia. Parece que o rei entendeu a lição e chamou de novo o fidalgo para a sua roda de conselheiros.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui