quinta-feira, 9 de maio de 2013

DE PERNAS PARA O AR


Desde que a Europa nos pagou para arrancarmos vinhas e olivais e meter ao fundo os nossos navios de pesca; desde que o Estado pagou para alguns estarem sentados, foi nesses momentos que começámos a cavar o nosso buraco, que vinha já das reformas agrárias e nacionalizações, após Abril, vivendo acima das nossas possibilidades e das ilusões, com governos idiotas, descontrolando contas, espatifando dinheiros públicos, criando o pântano em que nos tornámos, de que agora quer saltar Coelho e seus pares, mas o que se afigura é não mais tirarmos o pé da lama, ainda que os esforços sejam enormes, esticados ao limite


O novo plano de austeridade continua implacável. Cada vez o pacote é maior (mais 3,5 mil milhões de euros). Com repetição de erro crasso: atinge sempre os mesmos, reformados e funcionários públicos. Gaspar é cego e autista e Passos continua a explicar mal as medidas concretas e razões. 

Dada a divergência entre o CDS e o PSD, também Portas quis justificar as medidas e o esforço para minimizar as taxas sobre as pensões. Pode até vir a acontecer que a medida seja posta no cesto do lixo tóxico, como aconteceu com a TSU. Gaspar já manda menos, com alívio para ministros do PSD. 

Não se compreende que o primeiro-ministro e um ministro de Estado venham falar sobre o mesmo assunto com vantagem dupla para Portas: não só explica melhor, mas faz por mostrar que não é pau-mandado do PSD, entre amuos, ausências e declarações. Espectáculo pobre e deprimente. Mas também não se percebe muito bem como a TVI se permite ouvir Seguro, cada vez mais radical e menos disposto a consensos, o que quer mesmo são eleições, sobre a intervenção de Passos, no mesmo horário informativo.

Enquanto isso, mais buracões, as swaps nas empresas públicas, o grande sorvedouro do tempo de Sócrates. Com o Banco de Portugal a dormir.

Há coisas que deveriam ter começado ao contrário: as boas práticas dos consensos, não só os de “conveniência”; a reforma do Estado, o ataque aos bolsos dos grandes interesses, o corte nas suas gorduras e nos desperdícios que ainda abundam em todo o lado. 

Por isso, o país continua de pernas para o ar.   

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Maio de 2013