Pintadas a vermelho retinto, como endireitar as contas do Estado português? Só há duas fórmulas: aumentar as receitas ou diminuir as despesas.
O segredo do êxito está no balanceamento correto das duas colunas, de modo a que o doente não morra da doença, mas também não morra da cura. E para todas as circunstâncias é imperioso cumprir um código de conduta do qual vela o Tribunal Constitucional, um órgão idealmente composto por gente considerada bacteriologicamente pura, ou não se desse o caso de até ter direito a reformar-se aos 40 anos de idade, com 10 de serviço.
Sendo as regras para o exercício do equilíbrio orçamental tão primárias, o impressionante é verificar a dificuldade de escolha de um trilho, ao ponto de os dirigentes partidários não encontrarem um mínimo de consenso. O país está teso como um carapau, exaurido, mas parece ainda dispor de forças para braços de ferro; embora espúrios.
Sendo as regras para o exercício do equilíbrio orçamental tão primárias, o impressionante é verificar a dificuldade de escolha de um trilho, ao ponto de os dirigentes partidários não encontrarem um mínimo de consenso. O país está teso como um carapau, exaurido, mas parece ainda dispor de forças para braços de ferro; embora espúrios.
Passos Coelho e António José Seguro são exemplos acabados de teimosia e ingenuidade.
O primeiro-ministro não é de modas: teima, teima, teima no receituário e não tenta sequer pedir ao fornecedor de medicamentos (a troika) uma qualquer mudança molecular. Constituído por todos os portugueses, o doente vai de mal a pior e a cada agravamento dá-se o reforço da dose - até agora, mais e mais impostos, mais e mais recessão, mais e mais desemprego. O combate à queda a pique da economia faz-se sempre num plano mais inclinado. Neste escorregão, vão-se criando novas "feridas", deitando fora princípios de dignidade humana e de direitos legitimamente adquiridos - o que leva a cortes no Estado social. As alternativas são zero. Por um lado, o Tribunal Constitucional não deixa e por outro a cegueira ideológica tolda o espírito de Passos Coelho e seus ajudantes de governo.
O caso do líder da Oposição é também enternecedor - e preocupante. António José Seguro aproveitou o facto de o Governo não lhe passar cartão e, acossado pelos socráticos responsáveis pela entrada do país em bancarrota, usa acordes entre o infantil e o celestial. Sempre e quando demora a reagir a um acontecimento fica a expectativa de que vai ter uma qualquer medicação pragmática. Mas não. Agenda do crescimento, renegociação da dívida, blá-blá, o secretário-geral do PS não descola nas sondagens. Pudera!, como podia ser de outro modo se a renegociação da dívida não depende da sua vontade e o crescimento passa pelo dinheirinho que não há?
Em bom português: estamos entregues à bicharada.
PSD e PS, Passos Coelho e António José Seguro, são as duas faces de uma mesma moeda. Convergentes num ponto: são incapazes de referir ou impor novas regras para as parcerias público-privadas (15,256 mil milhões de euros em rodoviárias, só este ano) ou para o cartel de negociatas da Energia ou das Telecomunicações. É mais fácil cortar pensões ou prometer negociar juros da dívida do que pôr na ordem interesses instalados, do investimento chinês à Banca e às construtoras sanguessugas de rendas fixas com margens de lucro escandalosas - em alguns casos muito superiores a 10%. Rasgam-se tantos contratos com os cidadãos simplórios...
Dever-se-iam dispensar governantes e candidatos assim. São fortes com os fracos, fracos com os fortes e demasiado "jongleurs".
Retirada daqui