Recauchutagem? Lifting? Substituição? Mini-remodelação? Remodelação?
Seja lá o que for, a nomeação de novos ministros e secretários de Estado para o Governo de Portugal introduziu várias cambiantes de ruído analítico, essencialmente dividido em duas áreas: o potencial curricular de cada um dos escolhidos e a capacidade específica para gerarem novo élan à equipa chefiada por Passos Coelho, quer do ponto de vista técnico quer político.
A primeira fila das apreciações coube, naturalmente, ao novo ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro. O facto de a sua escolha surgir de fora do habitual circuito aparelhístico-mediático justificava, por si só, todos os holofotes. Reforçados, obviamente, pelas vastas tarefas de que é incumbido - da Comunicação Social à Modernização Administrativa, do Desenvolvimento Regional às autarquias e, cereja no topo do bolo, articulação política do Governo.
A primeira fila das apreciações coube, naturalmente, ao novo ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro. O facto de a sua escolha surgir de fora do habitual circuito aparelhístico-mediático justificava, por si só, todos os holofotes. Reforçados, obviamente, pelas vastas tarefas de que é incumbido - da Comunicação Social à Modernização Administrativa, do Desenvolvimento Regional às autarquias e, cereja no topo do bolo, articulação política do Governo.
Curioso: rarearam os elogios à coragem de Miguel Poiares Maduro ao ter trocado o conforto universitário em Itália por um posto num governo cujo prazo de validade se desconhece na prática, sujeitando-se a ser pendurado no pelourinho da contestação social e no escrutínio dos seus defeitos públicos e privados. As baterias da análise levaram antes em conta a riqueza do seu perfil académico, o qual não lhe garante qualquer eficácia (veja-se o caso do adiantado mental Vítor Gaspar...) e, mais do que isso, pela sua inexperiência partidária, desconfianças de que seja capaz de introduzir articulação política a um governo por norma em roda livre.
É interessante, sem dúvida, a tendência geral para a apreciação sobre quem ocupa postos governativos, a começar pela ausência de explicação sobre o que é "coordenação política" - colocação de todos os membros do Governo debaixo de uma mesma pauta musical, cujos acordes são tendencialmente para testes de susto do povo, propagação de mentiras ou o esconder de verdades doridas?
Sendo cada vez mais difícil em Portugal haver gente com estaleca a aceitar entregar-se à gestão do bem comum, a discussão gerada pela nomeação de Miguel Poiares Maduro é paradigmática sobre a inexistência de um critério objetivo de apreciação de capacidades.
O currículo académico é importante, mas não deve ser condição bastante para validar uma nomeação para o serviço público. Assim como assim, o escrutínio dos governantes deve juntar outros parâmetros. O conhecimento do país real e a experiência de vida profissional são itens a exigir mais e mais atenção.
Uma esmagadora maioria dos governantes dos últimos anos em Portugal nunca picou o ponto numa fábrica às oito ou oito e meia da manhã, jamais respirou o ambiente de uma unidade de produção ou esteve sujeito à estrutura hierárquica de uma empresa; não sabe quanto custa um quilo de batatas e nunca esteve horas e horas na fila para apanhar um transporte coletivo.
Parte substancial de quem nos tem governado é formada por meros teóricos e/ou facilitadores nascidos nas lógicas ascensoristas dos aparelhos partidários. E essa é uma pecha a que urge pôr cobro.
PS. Há vários tipos de batatas - como certamente os senhores governantes saberão. As mais comuns, para cozer, custam numa grande superfície à volta de 0,98 cêntimos o quilo, mais cêntimo menos cêntimo. O povo consegue um preço ligeiramente mais em conta na mercearia da esquina (na pré-falência) ou na compra na berma da estrada aos agricultores incapazes de as escoarem.
Retirada daqui