No mesmo dia leio: o Governo grego trabalha para exigir em tribunais
internacionais o pagamento pela Alemanha de 162 mil milhões de euros
(alegadamente devidos por danos causados na II Guerra Mundial); um novo partido
alemão vai concorrer às eleições propondo o regresso ao marco; uma entrevista do
multimilionário George Soros defende a saída da Alemanha da moeda única para
salvar as economias de países como Itália, Espanha, Grécia e Portugal; um estudo
de agosto último, escrito pelo novo ministro Miguel Poiares Maduro, defende a
realização de, cito, "genuínas eleições europeias" para dar, finalmente,
verdadeira força democrática a reformas que solucionem os problemas desta
bizarra união.
Com enorme candura o primeiro-ministro finlandês, Jyrki Katainen, dizia na semana passada, enquanto visitava o nosso país, que "compreendia muito bem" a necessidade de revisão de prazos de pagamento dos empréstimos da troika que Portugal pedia mas, ao mesmo tempo, também os portugueses teriam de perceber como era difícil explicar aos finlandeses, "aos cidadãos comuns", sujeitos a um emagrecimento de três por cento nas despesas do Estado, o motivo "por que tinham de pagar as dificuldades de outros países".
Com enorme candura o primeiro-ministro finlandês, Jyrki Katainen, dizia na semana passada, enquanto visitava o nosso país, que "compreendia muito bem" a necessidade de revisão de prazos de pagamento dos empréstimos da troika que Portugal pedia mas, ao mesmo tempo, também os portugueses teriam de perceber como era difícil explicar aos finlandeses, "aos cidadãos comuns", sujeitos a um emagrecimento de três por cento nas despesas do Estado, o motivo "por que tinham de pagar as dificuldades de outros países".
Por seu lado, Passos Coelho anunciou numa conferência de imprensa conjunta
com Katainen ter encontrado uma solução para o imbróglio que criou, ao parir
quatro normas inconstitucionais no Orçamento do Estado 2013. A coisa foi
explicada numa carta enviada, dias antes, à troika: ia criar uma "tabela
salarial única" (?!) e fazer convergir a lei laboral e os sistemas de pensões
público e privado. Tudo dito lá fora, antes de ser discutido cá dentro.
E nem quero lembrar o contraditório e ideologicamente suicida elogio,
comovido, dos liberais que comandam a Zona Euro à memória da prática política de
Margaret Thatcher, o mais antieuro dos líderes históricos da Europa.
O que estamos a viver não é, portanto, uma crise de Portugal. O que estamos a
viver não é uma crise do euro. O que estamos a viver é uma crise de identidade.
É uma desagregação. Os povos não sabem se são nacionais ou se são da União. Está
a decorrer a implosão. Literalmente, o povo do euro não sabe de que terra é.
Aos portugueses, inevitavelmente, com o percurso que esta história leva,
caberá um dia responder a algo mais do que, simplesmente, continuar, ou não, no
euro. Um dia, se nada se passar que inverta esta marcha, teremos de responder a
uma simples pergunta: queremos mesmo continuar a ser portugueses?
Pedro Tadeu, aqui