quarta-feira, 17 de abril de 2013

A PERGUNTA A QUE UM DIA VAMOS TER DE RESPONDER


No mesmo dia leio: o Governo grego trabalha para exigir em tribunais internacionais o pagamento pela Alemanha de 162 mil milhões de euros (alegadamente devidos por danos causados na II Guerra Mundial); um novo partido alemão vai concorrer às eleições propondo o regresso ao marco; uma entrevista do multimilionário George Soros defende a saída da Alemanha da moeda única para salvar as economias de países como Itália, Espanha, Grécia e Portugal; um estudo de agosto último, escrito pelo novo ministro Miguel Poiares Maduro, defende a realização de, cito, "genuínas eleições europeias" para dar, finalmente, verdadeira força democrática a reformas que solucionem os problemas desta bizarra união.


Com enorme candura o primeiro-ministro finlandês, Jyrki Katainen, dizia na semana passada, enquanto visitava o nosso país, que "compreendia muito bem" a necessidade de revisão de prazos de pagamento dos empréstimos da troika que Portugal pedia mas, ao mesmo tempo, também os portugueses teriam de perceber como era difícil explicar aos finlandeses, "aos cidadãos comuns", sujeitos a um emagrecimento de três por cento nas despesas do Estado, o motivo "por que tinham de pagar as dificuldades de outros países".

Por seu lado, Passos Coelho anunciou numa conferência de imprensa conjunta com Katainen ter encontrado uma solução para o imbróglio que criou, ao parir quatro normas inconstitucionais no Orçamento do Estado 2013. A coisa foi explicada numa carta enviada, dias antes, à troika: ia criar uma "tabela salarial única" (?!) e fazer convergir a lei laboral e os sistemas de pensões público e privado. Tudo dito lá fora, antes de ser discutido cá dentro.

E nem quero lembrar o contraditório e ideologicamente suicida elogio, comovido, dos liberais que comandam a Zona Euro à memória da prática política de Margaret Thatcher, o mais antieuro dos líderes históricos da Europa.

O que estamos a viver não é, portanto, uma crise de Portugal. O que estamos a viver não é uma crise do euro. O que estamos a viver é uma crise de identidade. É uma desagregação. Os povos não sabem se são nacionais ou se são da União. Está a decorrer a implosão. Literalmente, o povo do euro não sabe de que terra é.

Aos portugueses, inevitavelmente, com o percurso que esta história leva, caberá um dia responder a algo mais do que, simplesmente, continuar, ou não, no euro. Um dia, se nada se passar que inverta esta marcha, teremos de responder a uma simples pergunta: queremos mesmo continuar a ser portugueses?

Pedro Tadeu, aqui