segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

AGORA PODEMOS FICAR MAIS TRANQUILOS


Perguntam-me os amigos com insistência, às vezes até os desconhecidos: como vai ser 2013? Estamos fritos e acabados? Estamos a caminho da redenção? Vamos acabar mal? Bem mal? Infelizmente não estou equipado para lhes responder com novidades

O número de desempregados inscritos já chegou aos 710.652 - valores de dezembro. Os 52 deste número qualquer pessoa conhece pessoalmente. Faça lá as contas. É essa a medida do que está a acontecer. O desemprego não é um problema deles, uma questão dos outros, é um drama nosso, chegado. Toca-nos na pele. Aconteceu a um amigo, a um amigo de um amigo, ao primo, ao irmão.


Isto vai piorar?, insistem em perguntar-me, enquanto me acusam de ter feito desta coluna uma coleção de desgraças do país, desvarios do governo e da oposição, desgraças ministeriais, maus agoiros. Dizem-me: não dás sinais de ânimo, nunca dás - tiras. Há sempre qualquer coisa que. Um lado que. Um aspeto que. Uma informação que. Um número que. Por exemplo: a confiança na Zona Euro subiu em janeiro, sinal de que estamos a sair da maior crise desde a Grande Depressão. Mas o crédito às empresas e às famílias continua a cair, o que - lá está o que - traduz o maior obstáculo à recuperação económica.

Uma boa notícia vem sempre acompanhada por outra má. Passos Coelho especializou-se nesta moeda de troca: foi um êxito este regresso aos mercados, mas a austeridade não vai acabar. Bah! Isto da crise estou até aos olhos. O desemprego aumenta, as falências disparam, crédito malparado é mato, o país está afundado, enterrado num estado de desânimo que até para os portugueses é preocupante. 

No meio desta barafunda, procuro o contraponto - onde? onde? -, mas tudo se agrava por aqui. Chamam-lhe ajustamento económico, como se houvesse algum conforto e alguma justiça, alguma economia nisto tudo. Não há. Não há economia. Caímos tão em baixo que ainda não acabámos de cair.

Toda a gente fala de investimento. Toda a gente menos os investidores, grandes ou pequenos. 

Experimentem fazer uma empresa, lançar um projeto, ter uma ideia, contratar alguém. Façam contas. Vejam os impostos que têm de pagar sobre o trabalho, sobre o lucro que não vão ter. Sobre os clientes que nunca terão. Vejam os seguros que têm de fazer e desembolsar. Os fiscais que têm de aturar, os juros que têm de suportar. 

O grande problema é este. Está aqui. Estamos no último reduto? Passos Coelho esclareceu-nos ontem: "A confiança é uma coisa que demora a construir o tempo de uma palmeira a crescer... mas destrói-se no tempo em que caem os cocos." Que sorte termos um governo que semeia coisas exóticas.

André Macedo, aqui