Entrámos no ano de todos os perigos e de todos os medos.
Ninguém ameniza as
perspectivas, e o primeiro-ministro acentuou a nossa angústia afirmando que
nunca as coisas, depois do 25 de Abril de 74, tinham estado tão escuras. Os seus
apaniguados, contentíssimos, aplaudiram as declarações, considerando-as sinal de
honrada "transparência".
Esqueceram-se, evidentemente, de que, à esquerda e à
direita, gente altamente qualificada e sensata já advertira da tragédia próxima.
E Passos Coelho continua a não reconhecer, claramente, o que a aplicação da
ideologia neoliberal nos tem feito.
Nem o que essa ideologia significa de risco para a própria democracia, cada vez mais acanhada até ao ponto de constituir uma humilhação e um desespero intoleráveis para quem nela acredita.
O ano traz, portanto, malvados prenúncios. E, embora sabedor da nociva sorte que nos aguarda, Passos Coelho não move uma palha para inverter a funesta tendência. Não move ou não sabe mover. A representação do poder demonstra enorme desprezo pelos protestos de rua, pelos movimentos de massas (o 15 de Setembro testemunhou a recusa da apatia e da resignação, pelas razões que em si mesmo comportava), pelos depoimentos e pelas declarações veementes de economistas, sociólogos, políticos, alarmados com o caminho para o desastre a que o País é impelido. Interpelado sobre se a população aguenta o caudal de restrições, impostos e constrangimentos, o banqueiro sr. Ulrich admitiu: "Aguenta! Aguenta!", num escabroso convencimento, a roçar o insulto e o impudor. É em criaturas deste jaez e estilo que o primeiro-ministro se apoia, pois elas mesmas caracterizam um dos pilares em que assenta a ideologia que defende.
Nem o que essa ideologia significa de risco para a própria democracia, cada vez mais acanhada até ao ponto de constituir uma humilhação e um desespero intoleráveis para quem nela acredita.
O ano traz, portanto, malvados prenúncios. E, embora sabedor da nociva sorte que nos aguarda, Passos Coelho não move uma palha para inverter a funesta tendência. Não move ou não sabe mover. A representação do poder demonstra enorme desprezo pelos protestos de rua, pelos movimentos de massas (o 15 de Setembro testemunhou a recusa da apatia e da resignação, pelas razões que em si mesmo comportava), pelos depoimentos e pelas declarações veementes de economistas, sociólogos, políticos, alarmados com o caminho para o desastre a que o País é impelido. Interpelado sobre se a população aguenta o caudal de restrições, impostos e constrangimentos, o banqueiro sr. Ulrich admitiu: "Aguenta! Aguenta!", num escabroso convencimento, a roçar o insulto e o impudor. É em criaturas deste jaez e estilo que o primeiro-ministro se apoia, pois elas mesmas caracterizam um dos pilares em que assenta a ideologia que defende.
A ideologia. Eis a questão capital. E o novo paradigma político e social, que
nos tem sido imposto, inscreve--se nessa nova experiência do capitalismo, como
emergência de sair da crise por si criada.
A regressão a que Pedro Passos Coelho nos obrigou contém uma incerteza
dramática, que o atinge, atingindo-nos cruelmente. Ele abriu a caixa de Pandora
e, agora, não sabe como fechá-la. É um tonto perigosíssimo. Arruinou a pátria,
não somente a pátria política, social e económica mas, sobretudo, a pátria
moral.
Nem daqui a duas ou três décadas o desastre será remediado, diz quem
sabe. O nefasto "rotativismo" ocultará ou dissimulará os erros e os crimes
cometidos. Ninguém vai parar à cadeia, porque eles protegem-se uns aos outros,
com o impudor de quem se reconhece acima de deus e do diabo.
É pungente assistir-se às torções do PS, como aos embustes, ao vazio de
sentido dos discursos do PSD. Não desejo referir-me, neste texto, ao dr. Cavaco,
por nojo e estrito resguardo mental. Desejo, isso sim, demonstrar o orgulho e a
vaidade que sinto por pertencer a um povo como este, sofrido, cercado, mas
decente e indomável.
Baptista-Bastos, aqui