
Quase sempre pelas boas razões, Portugal tem merecido destaque
regular na conceituada "Monocle", revista atenta a (quase) tudo o que se passa
no nosso mundo.
Na edição que marca a transição de 2012 para 2013, fomos
referidos pelo ridículo.
A publicação, que faz questão de se assumir como "um briefing sobre assuntos globais, negócios, cultura e design", coloca Portugal em 23.oº lugar do seu "Soft Power Survey" e perspectiva um certeiro e algo irónico futuro para o nosso país: "Será preciso mais do que lojas a vender pastéis de nata a nível mundial para transformar a imagem de Portugal".
A publicação, que faz questão de se assumir como "um briefing sobre assuntos globais, negócios, cultura e design", coloca Portugal em 23.oº lugar do seu "Soft Power Survey" e perspectiva um certeiro e algo irónico futuro para o nosso país: "Será preciso mais do que lojas a vender pastéis de nata a nível mundial para transformar a imagem de Portugal".
Ao invés do ministro-autor da patética proposta para a internacionalização do
país à base do franchising de um pastel (que ele pensa ser de excelência
mundial), a revista refere no essencial os nossos links com os países da
lusofonia (com Brasil e Angola no topo) como uma das vias para pularmos do
atoleiro onde Álvaro Santos Pereira e outros que o antecederam nos meteram.
Ao
conseguir com que um relevante órgão de comunicação internacional retenha sobre
o país a ideia peregrina de um governante que parece acreditar que o valor de um
pastel se sobrepõe a tudo aquilo que Portugal foi, é, e, sobretudo, poderá ser,
Álvaro teve apenas o mérito de internacionalizar o disparate.
O caso seria menos grave se o ministro estivesse só nesta cruzada. Mas não
está. Outros há que o seguem trocando o disparate pela ironia.
Querer dizer eficazmente o contrário do que se afirma é um exercício de
retórica ao alcance de poucos e, por isso, manda o bom senso que a utilização
desta técnica arriscada seja feita com peso, conta e medida. Em política,
ironizar é uma arte discursiva ainda mais complexa e dominada por muito poucos,
por exigir do emissor uma clarividência tal que permita ao receptor interpretar
a mensagem sem qualquer margem para equívocos.
Ao desvalorizar ironicamente os seus silêncios quando, na verdade, os
pretende exaltar - como fez recentemente Cavaco Silva -, o presidente da
República voltou a enveredar por um caminho sinuoso que manifestamente não
domina e que, de quando em vez, tem exposto o mais alto magistrado da nação. O
ridículo é ainda maior quando o presidente da República assume o papel de um
qualquer António Sala radicado em Belém (do palácio e não dos pastéis exaltados
por Álvaro Santos Pereira) e nos diz isto: "Todos sabem que o silêncio do
presidente da República é de ouro.
Hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por
onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de
setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da
conjugação de três letras do alfabeto português: "tê, ésse, u" (TSU)".
Desconheço a cotação do ouro neste arranque de semana, mas sei o valor do
silêncio do presidente da República. Os assessores de Cavaco, provavelmente,
também ainda não o informaram da oscilação do valor do nobre metal, até porque
não é crível que vão usar a mesma metáfora de gosto duvidoso num qualquer
discurso que estejam a preparar para o chefe de Estado. O que todos sabemos é
que Cavaco tem mantido silêncios sobre assuntos em relação aos quais o queremos
ouvir. Ou ler, se pretender optar por um post no seu facebook. Continuamos à
espera.
Retirada daqui