Durante mais de um ano, faziam-se apostas sobre quanto mais tempo duraria o
ministro da Economia no Governo.
Com um ministério megalómano, uma equipa que
não havia escolhido, não conhecendo a economia portuguesa para além das
estatísticas, inexperiente e inábil politicamente, Álvaro Santos Pereira deverá
a sua continuidade como membro do Executivo a Miguel Relvas.
Os sucessivos imbróglios que o envolviam, e a sua proximidade ao chefe do Governo, distraíram a opinião pública. Quando tudo parecia justificar uma remodelação, Passos Coelho recusou-se a fazê-la. E, assim, por interposta pessoa, lá se foi Santos Pereira aguentando.
Os sucessivos imbróglios que o envolviam, e a sua proximidade ao chefe do Governo, distraíram a opinião pública. Quando tudo parecia justificar uma remodelação, Passos Coelho recusou-se a fazê-la. E, assim, por interposta pessoa, lá se foi Santos Pereira aguentando.
Escrevi, aqui, que talvez nunca viéssemos a saber se ele poderia ser
um bom ministro da Economia, tal a dispersão de tarefas que lhe estavam
confiadas. Quase um ano e meio depois, ei-lo que começa a fazer prova de vida.
Terá sido esse o tempo para a aprendizagem, para olear a equipa, delegar
competências. Foi esse o preço que tivemos de pagar pela teimosia do
primeiro-ministro em criar uma estrutura impossível de gerir.
Há quem tenha deste despontar uma visão cínica. O ministro da Economia
estaria, apenas, a recuperar a reputação, a marcar terreno, a criar mercado para
si próprio, consciente de que o seu desalinhamento o mantém remodelável e/ou de
que o barco governativo estaria irremediavelmente ferido. Seja qual for a
motivação, das bandas da Horta Seca, sede do ministério, começaram a surgir
propostas concretas e não apenas tiradas de agitação e propaganda.
É certo que,
como quase todos antes de si, Santos Pereira não resistiu a fazer mudanças
cosméticas como as que se consubstanciam na "criação" do programa Portugal Sou
Eu, uma plástica ao Compro o que é Nosso que pede meças à da Alexandra Lencastre
(que, no entanto, não teve de mudar de nome depois da dita!). Estará perdoado se
conseguir levar por diante a redução do IRC para novos investimentos, desenhar
incentivos adequados à revitalização da economia, incluindo a reestruturação
empresarial, aproveitar a questão do chamado banco de fomento para efectuar a
reorganização das agências públicas dependentes do seu ministério.
Ao que se sabe, a sua proposta mais emblemática (a redução do IRC) terá
encontrado obstáculos em Bruxelas. Numa Europa tudo menos harmonizada, em que
países como a Holanda ou a Irlanda têm na fiscalidade um dos seus factores de
competitividade, custa a perceber que se possa argumentar com a concorrência
fiscal.
Ao que se vai sabendo, os maiores problemas seriam o patamar mínimo estabelecido (3 milhões de euros) e o abranger apenas novos projectos. Num país carecido de investimento, a saída lógica parecia ser a generalização da medida a todos os novos investimentos criadores de emprego, fossem originários de novas empresas ou das já instaladas.
Ao que se vai sabendo, os maiores problemas seriam o patamar mínimo estabelecido (3 milhões de euros) e o abranger apenas novos projectos. Num país carecido de investimento, a saída lógica parecia ser a generalização da medida a todos os novos investimentos criadores de emprego, fossem originários de novas empresas ou das já instaladas.
A crer nos jornais, o ministro estaria disponível
para o fazer mas já não o primeiro-ministro que terá argumentado que tal se
traduziria numa quebra de receita do IRC de que não poderia abdicar. Passos
Coelho faz lembrar a história do homem assaltado que, perante a ameaça "a
carteira ou a vida", exclama "o dinheiro faz-me tanta falta"! Uma coisa é querer
pôr as contas em ordem.
A outra é fazer disso uma obsessão à qual tudo se sacrifica, acriticamente. Se não formos capazes de atrair investimento estrangeiro e de estimular as empresas já instaladas a investir, não estancaremos a hemorragia do desemprego e não endireitaremos as nossas contas sem uma perda ainda mais drástica de riqueza hipotecando, quiçá, a democracia. A incapacidade de perceber esta dinâmica, algo que parece comum ao Governo e aos governantes europeus, é confrangedora e pode acabar mal.
A outra é fazer disso uma obsessão à qual tudo se sacrifica, acriticamente. Se não formos capazes de atrair investimento estrangeiro e de estimular as empresas já instaladas a investir, não estancaremos a hemorragia do desemprego e não endireitaremos as nossas contas sem uma perda ainda mais drástica de riqueza hipotecando, quiçá, a democracia. A incapacidade de perceber esta dinâmica, algo que parece comum ao Governo e aos governantes europeus, é confrangedora e pode acabar mal.
P.S. Todas as semanas, mais alguém vê o seu nome enxovalhado por uma certa
comunicação social que não respeita nada nem ninguém, alimentada por pretensas
fugas que, de tão repetidas, só podem ser rotinas instaladas. A complacência dos
principais órgãos de soberania para com o assunto torna-os cúmplices de um
processo que corrói o essencial da democracia. Que não se iludam: mais dia,
menos dia, também lhes baterão à porta.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
Retirada daqui