segunda-feira, 19 de novembro de 2012

OS DIAS DO FIM


Em 2013, a exemplar Alemanha e a velha França vão juntar-se à depressão geral.

Uma das coisas divertidas da passagem de Angela Merkel por Lisboa – para além da “photo opportunity” do letreiro “governo de Portugal” – aconteceu quando a chanceler, na conferência de imprensa ao lado de Passos Coelho, lembrou a origem da crise do euro. 

Deve ter sido esquisito para quem está habituado a culpar “o Sócrates” ter ouvido a todo-poderosa Angela explicar que, por causa da crise financeira desencadeada nos Estados Unidos, e da sua propagação à Europa, os governos europeus desataram a apostar no investimento público para conter o descalabro das suas economias. 

Só que entretanto os investidores começaram a desconfiar de algumas economias (as mais frágeis) e a duvidar da fiabilidade de alguns para pagar as respectivas dívidas. Esta foi a explicação de Merkel, perante um Passos Coelho que arrumou a um canto o discurso habitual do “vivemos acima das nossas possibilidades” e se concentrou no verdadeiro desastre nacional – um grave problema de produção. 

Claro que Merkel não recordou a parte em que a desconfiança dos investidores dispara quando o governo grego assume que as suas contas estavam aldrabadas e, mais tarde, essa desconfiança vai para o inferno no dia em que Angela (e já lá vai tanto tempo) começa a defender que os investidores deveriam ser co-responsabilizados pelas falências dos países. E estamos nisto.

O “isto” revelado ontem pelo Eurostat é capaz de ser suficiente para apagar o optimismo que restava nas almas mais crentes na bondade das políticas europeias em curso – embora a cegueira política e económica seja difícil de erradicar, e não faltam na história exemplos disso.

A zona euro está em recessão oficial, com a contribuição da sua outrora quarta economia, a Espanha, da terceira, a Itália, e daquele país atavicamente contra os preguiçosos do Sul chamado Holanda. No primeiro trimestre de 2013, a exemplar Alemanha e a velha França deverão juntar-se à depressão geral.

A questão já não é do Sul e atinge em cheio o motor europeu. A Europa enquanto espaço económico de sucesso, o território da prosperidade, acabou. Um dia destes chegará a altura de declarar a falência e repartir os despojos e as responsabilidades. A moeda disfuncional euro já não serve para nada. 

Contrariamente ao pensamento dominante, o fim do euro pode não significar de forma automática o fim da União Europeia enquanto espaço de partilha de algumas políticas; pelo contrário: manter o euro rebentará com tudo em muito pouco tempo.

Ana Sá Lopes, aqui