É uma vergonha.
Somos o 14.º melhor país do Mundo para ter
filhos - de acordo com a tabela da Save the Children (a Noruega é o melhor e o
Afeganistão o pior) - mas não tiramos partido disso. Temos a taxa de natalidade
mais baixa da Europa, 1,3 filhos em média por mulher em idade fértil.
É uma vergonha. Em 1956, o ano em que a minha mãe me trouxe ao mundo,
nasceram 210 mil bebés em Portugal. Em 85, a Mariana, a minha primeira filha,
foi uma das 130 mil crianças nascidas no ano anterior à adesão à CEE. Três anos
depois, em 88, quando nasceu o Pedro, já o número de partos tinha caído para 122
mil - pouco mais que os 120 mil bebés registados no ano 2000, quando lhe dei o
João como irmão mais novo.
Este século XXI tem sido uma miséria, com a natalidade em queda livre e
consistente. Em 2009, caímos pela primeira vez abaixo dos 100 mil bebés. E neste
ano vamos bater novo recorde negativo. No primeiro semestre, registaram-se menos
quatro mil nascimentos que em 2011, pelo que não vamos chegar aos 90 mil. Uma
vergonha, até um em cada oito bebés é filho de estrangeiros residentes em
Portugal.
Anda tudo com os olhos postos na dívida pública, o desequilíbrio nas contas
externas, a galopante taxa de desemprego e o défice orçamental, mas pouca gente
se preocupa com o alarmante saldo natural negativo. Em 1961, nasceram mais 118
888 portugueses do que os que morreram. Em 2011, houve mais 4735 funerais do que
partos.
Os mortos estão a ganhar aos vivos, dando razão à previsão da ONU de que em
2100 seremos apenas 6,7 milhões, ou seja, que num século a nossa população
recuará cerca de 40%.
A letal combinação entre o envelhecimento acelerado e a queda a pique da
natalidade arruinará a sustentabilidade da Segurança Social e comprometerá o
nosso futuro coletivo.
O aumento da produtividade que a competitividade do país exige não se pode
limitar aos locais de trabalho - tem de se estender à cama. Alguém tem de fazer
alguma coisa, e esse alguém somos todos nós. Fazer filhos é patriótico. É
investir no futuro.
A crise não pode ter as costas largas. Em 1960, Portugal era muito mais
pobre, havia muito menos apoios sociais e económicos à maternidade e, apesar
disso, produzíamos 200 mil bebés por ano. Mais do dobro que agora. Dois filhos
por casal é o mínimo, para repor o stock de portugueses. E não pega a desculpa
de que na altura só havia um canal de Televisão e era a preto e banco. Bora aí
fazer filhos como se não houvesse amanhã!
Jorge Fiel, aqui