terça-feira, 13 de novembro de 2012

ERA UMA VEZ...

O BARCO DE PAPEL


Era uma vez um barco de papel, que se fez ao mar



Barco de papel, no meio do mar, estão a ver o que lhe aconteceu? Escangalhou-se à primeira onda. 

E regressou à praia. Estatelado na areia, era uma lástima vê-lo. 



Andava por ali um jornalista, coleccionador de desastres e desgraças, que lhe perguntou: 
- Senhor barco de papel, como se sente, depois da aventura? 



O barco, todo amarrotado pelo desespero e a humilhação da derrota, esboçou um sorriso. Um sorriso de papel: 
- O que sinto vê-se. Não lhe posso dizer mais nada. 



Mas o jornalista insistiu: 
- Atribui, porventura, o seu naufrágio a alguma causa em especial? 
- À minha pouca prática, apenas - respondeu o barco de papel. - E pode escrever que também à minha falta de vocação. 



O jornalista ainda: 
- Falta de vocação? Interessante. Nesse caso, se pudesse ter voltado atrás, o que teria feito? 



O barco de papel ou o que dele sobrara fugiu da pergunta, aproveitando o escorrega de uma onda, que descia da praia. Estava muito cansado o barco de papel. Mas o jornalista, molhando os sapatos, correu atrás dele: 
- Não chegou a dizer-me, senhor barco de papel? Por favor, o que teria sido se pudesse voltar atrás? 



De longe, quase desfeito, o barco respondeu: 
- Avião de papel. É evidente. E hei-de conseguir.


António Torrado e Cristina Malaquias, retirada daqui