Em Portugal as aventuras sem anestesia ainda são raras. Reino Unido testa método para ver se reduz custos ao serviço de saúde.
"Não sei se já teve filhos, mas no seu mundo o parto é o momento mais doloroso. É tudo psicológico."
Mikaela Övén, 35 anos, tenta explicar o que é ter um filho com a ajuda da auto-hipnose e não sentir uma única dor. Se não for um céptico destas coisas, está arruinado o velho argumento de superioridade atirado aos homens, que nunca terão de passar pela experiência.
Em Portugal, o método cunhado de Hypnobirthing ainda é praticamente desconhecido e Mikaela pode considerar-se uma pioneira: depois de ter tido a primeira filha com epidural, já teve mais dois sem anestesias e num estado profundo de relaxamento. O último nasceu em casa e foi a melhor experiência, conta. "Os irmãos por perto, a minha cama, o meu chuveiro, a minha sopa." O processo pode não funcionar com toda a gente e a primeira condição é acreditar e estar disposto a uma formação intensiva.
No Reino Unido são tantas as adeptas que Soo Downe, investigadora na University of Central Lancashire, conseguiu financiamento do Instituto Nacional para a Investigação em Saúde para testar o método em 800 grávidas. Um dos objectivos é ver se a técnica permite reduzir a dor e os custos com partos do serviço nacional de saúde, ideia que o SNS britânico está disposto a comprar se valer a pena.
Até ao momento, Soo Downe já acompanhou 25 partos. "A hipnose tem sido usada noutras situações, como a dor crónica, ou para aliviar os sintomas da síndrome do cólon irritável", conta ao i a investigadora em obstetrícia. Apesar de o treino dever começar entre as 20 e as 24 semanas de gestação, as participantes vão ter duas sessões de grupo às 32 semanas e um CD para praticarem todos os dias. No estudo participam apenas grávidas do primeiro filho. Quantas perdem o receio da dor e optam por recusar o parto medicalizado; e quantas estão dispostas a repetir a experiência são algumas das perguntas em aberto.
Isabel Mortágua, enfermeira no bloco do Hospital de São João do Porto, onde existe a única sala de partos naturais do Norte do país, conta ao i que, apesar de começarem a aparecer pedidos alternativos, nunca presenciou uma auto-hipnose. "Já tivemos uma mãe que fez reiki e outra que usou agulhas de acupunctura", conta. Desde 2008 têm, em média, dois pedidos por mês para parto natural.
"O que todas pedem é um parto o menos intervencionado possível, apesar do medo da dor", diz a parteira, com 15 anos de experiência. Já Sandra Oliveira, doula com 90 partos acompanhados desde 2005, defende que a dor é essencial para perceber o momento do parto e dar à luz da forma mais natural possível. "A dor serve de alerta. Se soubermos acompanhar a dor ao longo do corpo, sabemos quando o bebé está quase a nascer. São indicações que funcionam melhor do que as contracções de cinco em cinco minutos ou os centímetros de dilatação."
Marta F. Reis, aqui