Como as coisa vão, dá a impressão que os bárbaros troikanos,
vindos do centro da Europa, para nos libertarem, entraram no país por Lisboa e
tomaram conta do governo que não explicou todos os buracos e rombos, feitos por
terceiros, e agora nos trata abaixo de cão para fechá-los.
Sem pudor, afronta a
classe média, viola a sua privacidade; sem princípios de equidade, vai aos seus
bolsos e rendimentos, vai ao banco e saca, vai à casa e obriga-nos a pagá-la ao
banco e à Câmara (IMI) e, sem um projecto nacional, atira o país para uma
barcaça à deriva.
Coragem política? Talvez. Um assalto? Também. O ideal seria o meio-termo. Perante tudo isto, o 5 de Outubro, após o anúncio de um “enorme aumento de impostos”, disse Gaspar, brutal pacote de medidas de austeridade, dizem todos, foi quase uma brincadeira de Carnaval. Os políticos, com medo de vaias e ovos, fecharam-se no Pátio da Galé, deram as costas ao povo. Políticos com medos, que valem? Alguém gozou até com a cara da República.
A bandeira
nacional, o símbolo máximo da pátria, foi hasteada de pernas para o ar, por
Cavaco, perante o pasmo de todos. Excepção, António Costa que, anfitrião, entreabriu
um sorriso. Todos viram, mas ninguém teve a coragem, um pingo de brio, de
arrear a bandeira e pô-la direita.
É o abastardamento pátrio. Nem o supremo
chefe das Forças Armadas, que é Cavaco. Foi realmente a metáfora de um país de
pernas para o ar, mas é também uma indignidade, uma ofensa. A dita festa,
marcada por inesperados episódios, não trouxe nada de novo. Foi triste e
cinzenta de mais. Como o país. Cavaco, cheio de dúvidas para resolver, passou
ao lado da crise e da borrasca.
Falou de um futuro com sentido. António Costa,
com sonhos grandes, deu recados ao governo e ao PS, mas tudo isso foi engolido
pelo protesto, em plena cerimónia, de uma mulher que tinha de viver com 200
euros/mês. Queria dizer isso na cara do PR. Foi o espelho do país real com
lágrimas. Depois foi uma jovem cantora lírica que, de mochila às costas,
cantando revolta, assim protestou.
É a metáfora da cigarra, dos românticos de
uma governação impossível, de corda à garanta e cercados que estamos.
Por culpa
de uns tantos que continuam impunes.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 11 de Outubro de 2012
