quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PAULO PORTAS PODE E DEVE ROMPER


Paulo Portas vive neste momento um dos dilemas mais difíceis da sua vida política: uma opção é a escolha da imolação pelo fogo, dando um ámen contrito a um Orçamento asqueroso para o seu eleitorado, contestado no interior do PSD e entre os ministros social-democratas e que já tem o veto simbólico do próprio Presidente da República – só para falar no que se está a passar à direita.

A segunda é protagonizar uma ruptura no governo que conduzirá a um turbilhão desconfortável nas relações com a troika. Passos, como o i revela mais à frente, encostou Portas à parede e ameaçou: se o CDS não aceitar o Orçamento, ele demite-se e responsabiliza o partido de Portas pela necessidade de o país precisar de um segundo resgate. A linha é estreita.


Contudo, se Paulo Portas mantém a inteligência política intacta, só tem uma solução: romper. As soluções disponíveis neste Orçamento não têm o apoio do mais alto magistrado da nação – eleito também com os votos do CDS. O programa de Vítor Gaspar é contestado do primeiro ao último barão do PSD – para não falar nas bases. No CDS nem é bom falar: ninguém apoia o Orçamento e o principal conselheiro de Portas para as questões económicas, Bagão Félix, tem produzido os mais furiosos e imaginativos panfletos contra as contas de Gaspar.

Dito isto, a direita (com a devida excepção do círculo íntimo de Passos e Gaspar) está generalizadamente contra o Orçamento; o Presidente da República eleito pela maioria PSD/CDS está contra o Orçamento. E, espectacularmente, a semana passada ficámos a saber que o FMI – um dos elementos da troika – também está contra o Orçamento e que a própria Comissão Europeia (outro elemento da troika) está assustadíssima com a devastação que a recessão nacional vai provocar nas pequenas e médias empresas, o centro da nossa fragilizada economia.

Portas tem neste momento toda a margem para, com o talento que se lhe conhece, anunciar aos portugueses que foi eleito com outro programa e que se dois terços da troika já põem em causa a receita escolhida para “salvar” Portugal, então o Orçamento não é de “salvação nacional”.

A solução foi apontada pelo Presidente da República: é preciso renegociar com a troika, sob pena de declaração de estado de calamidade para a economia nacional. Este é o único programa que garante a sobrevivência política de Portas (e, já agora, de nós todos). E quem tem medo compra um cão.

Ana Sá Lopes, aqui