Quando o FMI corrige cálculos anteriores e diz que por cada euro adicional de
austeridade a economia vai afundar entre 0,9 e 1,7 euros, percebemos que andamos
a ser enganados.
Dá vontade de andar à estalada.
O orçamento apresentado ontem por Vítor Gaspar, dadas aquelas contas do FMI,
irá, portanto, causar mais 5 mil milhões de austeridade e 8 ou 9 mil milhões de
euros de quebra do PIB, de perda de riqueza do país. Qualquer burro percebe que
assim não vai haver dinheiro para pagarmos a dívida nem para estabilizar o
défice e que estaremos, no final do ano, de bolsos vazios e ainda mais longe de
atingir as metas da troika!
Quando o primeiro-ministo promete um sacrifício equitativo para vencer a
crise mas aceita este novo IRS - que significa para um casal de trabalhadores
com um filho que, por mês, tenha 1500 euros de rendimento, um aumento de 140%
neste imposto, enquanto um outro casal que ganhe mais de 25 mil euros por mês
tem um aumento de apenas 18% - parece que alguém não sabe fazer contas.
Dá
vontade de começar à estalada.
Quando o grupo parlamentar do PS acusa de populismo quem o critica por nesta
altura andar a trocar viaturas e aparece o seu deputado Francisco Assis, em tom
de desafio demagógico, a perguntar para a geral se o líder do grupo parlamentar
socialista deve andar num Renault Clio, vislumbra-se a inutilidade de um
hipotético governo alternativo do PS.
Dá vontade de começar à estalada.
Quando o Cardeal Patriarca mostra compaixão pelos pobres, cada vez em maior
número, mas acusa o poder de se deixar governar pela rua, onde os pobres
protestam por nada mais lhes restar fazer, deparamo-nos com uma definição
esquisita do conceito "amor pelo próximo".
Dá vontade de começar à estalada!
Quando o presidente Cavaco Silva escreve que o cumprimento do objetivo do
défice público é simplesmente inviável, mas não retira consequências disso
tratando de demitir o governo antes da aprovação do orçamento que repete esse
erro, somos obrigados a concluir que no Palácio de Belém o poder é uma
inutilidade.
Dá vontade de começar à estalada.
A classe política, os economistas, os líderes morais dão, todos os dias,
razões para ser deflagrada a violência que Passos Coelho disse, no parlamento,
recear. No dia em que começasse tudo à estalada havia pretexto para sitiar o país e
impôr, à cacetada de polícia de choque, a política de empobrecimento
generalizado dos portugueses.
A quem interessa, pergunto, que andemos à
estalada?
Pedro Tadeu, aqui