Tinha que atravessar. Aquilo e a estrada.
Tinha que o fazer apesar do tempo que fazia lá fora. E dentro dela.
Há dias assim. Com nevoeiros e chuvas miudinhas que nos atormentam os segundos. Todos.
O tempo é coisa difícil de controlar. Que nos descontrola.
O tempo que faz, o tempo que passa e o outro. O que demora a passar.
Tinha que atravessar. Aquilo. Os dias, a estrada e o resto.
O resto é outra coisa difícil de explicar. Há o resto que sobra do que se disse e fez e o outro. O resto das coisas que devíamos ter dito aqui e ali ou feito acolá, algures. Do outro lado da estrada onde estávamos, ou para onde queremos ir.
Ela sabia disso.
Havia dias assim. Com cores difíceis de explicar e céus grandes demais.
Dias de atravessar. Ia começar a chamar-lhes assim.
Daqui para ali. De dentro para fora. Devagar.
Com a pressa do outro lado da rua.
Com tempo e alma.
Um passo atrás.
Do outro.
Do outro.
Cristina Gameiro, aqui