quinta-feira, 13 de setembro de 2012

UM ALÍVIO QUE NÃO É ALÍVIO


Quando, ontem, comecei a ouvir a esperada conferência de Imprensa do regressado ministro das Finanças (esteve 78 dias sem falar, o que deve ser um novo recorde para um ministro de Estado), só não levantei as mãos como fazem os assaltados porque estava a conduzir

O assalto da última sexta--feira, verbalizado por um primeiro-ministro transtornado, tornou muito clara a dimensão da tragédia em que estamos metidos. Logo, o esbulho só pode continuar nos próximos anos. Vítor Gaspar confirmou-o na matiné de ontem.

Creio, aliás, que nenhum português na plena posse de todas as suas faculdades estaria à espera de boas notícias. Lá diz o provérbio: "Da guerra o dano vem cedo, e tarde o proveito". Nesta "guerra" que nos encarquilha no presente e nos encolhe o futuro, os danos continuarão a massacrar os orçamentos das famílias.

Como assim? Fácil: vamos pagar mais IRS, as reformas vão levar um corte entre 3,5% e 10%, os subsídios (os chamados rendimentos complementares) dos funcionários públicos baixarão, a recessão manter-se-á em 2013 (longe vão os tempos em que Gaspar e Passos apontavam o próximo ano já como um risonho amanhã), o consumo cairá, o desemprego não parará e o acesso aos subsídios sociais será mais difícil. Um dia chegarão os proveitos. Chegarão mesmo?

Lá para 15 de outubro, quando o Orçamento do Estado para 2013 for entregue por Vítor Gaspar no Parlamento, ficaremos a conhecer melhor os pormenores desta gigante fatura. E o resto das parcelas que a compõem. Sim, porque o alívio que a troika gentilmente nos concedeu só o é na aparência. Primeiro, porque nos foi gentilmente concedido tendo como óbvia moeda de troca o brutal aumento da contribuição para a Segurança Social. Segundo, porque nos obriga, como segunda moeda de troca, a um brutalíssimo ajustamento para chegarmos a 2014 com um défice de 2,5%.

Sim, é verdade que viver como vivíamos não era mais sustentável. Porém, essa evidência não justifica esta estratégia buldózer que, parafraseando D. Januário Torgal Ferreira, deixará os caminhos repletos de "cadáveres".

Um Governo que leva um ano de existência sem grande contestação nas ruas - ainda por cima respaldado por uma maioria confortável (a coligação com o PP começa agora a mostrar as primeiras fissuras) no Parlamento e por um presidente da República conivente - tem obrigação de fazer mais, muito mais do que simplesmente esticar a receita até ao limite da fadiga tributária.

Se Passos Coelho estivesse à frente de uma empresa em dificuldades, não se atreveria a pedir, uma e outra vez, mais capital aos acionistas. Se o fizesse, seria despedido num instante. O país, parece-me, tem cada vez mais vontade de se despedir de Passos.

Retirada daqui