O país está a arder.
Em todas
as frentes. O fogo tem devorado matas, casas, empresas, bens. Há incendiários.
Alguns são apanhados, mas são dados como doidos e ficam impunes. De todos os
ladrões o fogo é o maior. Mas há outros fogos com um perigoso rastilho social.
Se
o fogo é o maior ladrão, o Estado é uma roubalheira pegada. Há muita gente na
origem do degradante estado da nação, miséria e pelintrice. Há culpados, com
rosto. E tal como os doidos do fogo vivem impunes em Paris e em tanta outra
cidade ou cargo importante. Não pagam por erros e desmandos, são inimputáveis.
O país ardeu imenso na semana
passada, que foi marcada também por um outro fogo de revolta generalizada. Em
face das medidas drásticas tomadas pelo governo e anunciadas por Passos Coelho,
que, discurso mal estribado, só falou dos castigos aos pobres. Quanto aos ricos
e comedores de pérolas, andou às voltas, nada anunciou de concreto.
Quando
deveria bem explicar todas as razões de mais um saque. O governo cava assim
cada vez mais um inevitável divórcio com o povo. A economia, ainda que as
empresas sejam beneficiadas, pagando menos para a Segurança Social, não
melhorará. Ao contrário os trabalhadores vão descontar 7% sobre o ordenado.
É a
matar. Contas feitas, quem ganhar o mínimo, vai receber menos 34 euros. Para quem
já ganha pouco, é muito dinheiro. Vai ao ar um salário. E os bolsos sem
dinheiro não animam a economia, antes o facto concorre para a sua anemia geral.
Para quem, antes de ser governo, defendia que não se podia pôr o povo a pão e
água - a água, pão e caldos de galinha vive, hoje a maior parte. Mas há sempre
excepções.
Está feita a equidade? Ainda não! Se Freitas do Amaral defendia uma
taxa para quem usufruísse ordenado acima de 10 mil euros, Coelho considerou
medida difícil de implantar. Se Cavaco deu alguns recados, a Troika fez de
surda e cega e Passos manteve a receita execrável. Sempre o mexilhão a ser
lixado. (Podem ler outra coisa…).
Cortar nas gorduras do Estado e nos
políticos, ir às grandes fortunas, liquidar as sanguessugas, está quieto!
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 13 de Setembro de 2012