A ladroagem, por estes dias, passou a ser comentada com alguma
originalidade extra no Facebook.
O Facebook, sobretudo este, potencia, assim, mais um mecanismo destinado a
dificultar a vida à ladroagem.
Afinal, através de uma mensagem muito precisa, direcionando os "amigos" para
um caso específico, o Facebook reforça uma vertente utilitária muito para lá das
conversas de lana-caprina, o espreitar pelo buraco da agulha da vida do vizinho,
o sub-rendimento nas empresas graças à substituição do trabalho (pago pelo
patrão) pelo consumo das horas em comunicação maldizente, mesmo contra o
parceiro da mesa do lado.
As boas exceções confirmam a ideia geral. Convém separar o trigo do joio,
como diz o povo.
Bem vistas as coisas, muitos utilizadores do Facebook merecem respeito. Não
fora esse o conceito e, por exemplo, o primeiro-ministro não teria recorrido à
rede social, perto da meia-noite de sábado, para divulgar aos "amigos"
cibernautas o seu estado de espírito após a dureza das medidas de austeridade
anunciadas na sexta-feira, por volta das 19 horas. É só fazer as contas ao tempo
passado....
Na comunicação das fórmulas através das quais o Estado vai caçar mais
rendimento a quem vive do esforço do seu trabalho, Passos Coelho pôs um ar de
duro, inflexível. Não lacrimejou, não pediu desculpa por estar obrigado a dar
cobertura a empobrecimento dos seus compatriotas. Como lhe terá custado aquele
ar de zangão!, tanto mais quanto as suas convicções sobre o que é o interesse
nacional o levam a não contrariar nenhuma recomendação da troika.
Convenhamos: tratava-se de um problema existencial grave.
Qual a saída? Agendar nova comunicação a Portugal pela televisão seria
incauto; sempre que um primeiro-ministro fala ao país nos últimos anos é para
exigir mais e mais sacrifícios e, está bom de ver, os portugueses que se sentem
roubados no seu esforço para uma vida digna sucumbiriam, vítimas de um
fanico.
Só podia ser assim: uma comunicação-desabafo aos "amigos" através do
Facebook, revelando um estado de alma sofrida. Todo um problema. Porque no país
não vivem só os amigos e os "amigos".
Os portugueses, todos os portugueses, mereciam melhor. Mesmo que Passos
Coelho, na qualidade de cidadão e pai (muitos não têm dinheiro para comer,
quanto mais para ter Facebook), tenha sido premonitório ao afirmar que "esta
história não acaba assim". Ai não acaba, não...
Retirada daqui