terça-feira, 11 de setembro de 2012

ROUBOS E ANGÚSTIAS NO FACEBOOK


A ladroagem, por estes dias, passou a ser comentada com alguma originalidade extra no Facebook

Como o JN noticia hoje, um comerciante de Santo Tirso a quem roubaram uma carrinha resolveu abrir uma página na Internet na esperança de alguém a tentar encontrar, abrindo o espaço a outras vítimas de igual crime. Assim como assim, fez uma ligação da página também à rede social Facebook e espera que a poderosa circulação na net e na rede social o ajude a recuperar o veículo. Em caso de a cidadania ser solidária, a iniciativa do comerciante tem acoplado outro benefício: as forças de segurança ficarão aliviadas de um dos milhares de processos que lhes tolhem os movimentos....

O Facebook, sobretudo este, potencia, assim, mais um mecanismo destinado a dificultar a vida à ladroagem.

Afinal, através de uma mensagem muito precisa, direcionando os "amigos" para um caso específico, o Facebook reforça uma vertente utilitária muito para lá das conversas de lana-caprina, o espreitar pelo buraco da agulha da vida do vizinho, o sub-rendimento nas empresas graças à substituição do trabalho (pago pelo patrão) pelo consumo das horas em comunicação maldizente, mesmo contra o parceiro da mesa do lado.

As boas exceções confirmam a ideia geral. Convém separar o trigo do joio, como diz o povo.

Bem vistas as coisas, muitos utilizadores do Facebook merecem respeito. Não fora esse o conceito e, por exemplo, o primeiro-ministro não teria recorrido à rede social, perto da meia-noite de sábado, para divulgar aos "amigos" cibernautas o seu estado de espírito após a dureza das medidas de austeridade anunciadas na sexta-feira, por volta das 19 horas. É só fazer as contas ao tempo passado....

Na comunicação das fórmulas através das quais o Estado vai caçar mais rendimento a quem vive do esforço do seu trabalho, Passos Coelho pôs um ar de duro, inflexível. Não lacrimejou, não pediu desculpa por estar obrigado a dar cobertura a empobrecimento dos seus compatriotas. Como lhe terá custado aquele ar de zangão!, tanto mais quanto as suas convicções sobre o que é o interesse nacional o levam a não contrariar nenhuma recomendação da troika.

Convenhamos: tratava-se de um problema existencial grave.

Qual a saída? Agendar nova comunicação a Portugal pela televisão seria incauto; sempre que um primeiro-ministro fala ao país nos últimos anos é para exigir mais e mais sacrifícios e, está bom de ver, os portugueses que se sentem roubados no seu esforço para uma vida digna sucumbiriam, vítimas de um fanico.

Só podia ser assim: uma comunicação-desabafo aos "amigos" através do Facebook, revelando um estado de alma sofrida. Todo um problema. Porque no país não vivem só os amigos e os "amigos".

Os portugueses, todos os portugueses, mereciam melhor. Mesmo que Passos Coelho, na qualidade de cidadão e pai (muitos não têm dinheiro para comer, quanto mais para ter Facebook), tenha sido premonitório ao afirmar que "esta história não acaba assim". Ai não acaba, não...

Retirada daqui