
Portugal precisava agora tanto da turbolicenciatura de Miguel Relvas como, naquele longínquo Verão passado, precisou da tomada de posse de Pedro Santana Lopes no Palácio da Ajuda. Pobrete, mas alegrete – por alguma razão os ditados populares duram e duram.
Agora como antes, havia uma reclamação geral de um refresco, a urgência de um tónico, a necessidade de uma compensação por danos de terceiros, uma ânsia generalizada de uma ventoinha para aliviar a submersão no lodo. Portugal reclamava esta festa inesperada, na exacta proporção do esforço inglório de Pedro Santana Lopes em 2004.
Tal como nesses tempos saudosos – o país estava de tanga, lembram-se?, e Durão Barroso bazou –, a licenciatura de Relvas tem o condão magnífico de unir a pátria a um nível só atingido pela selecção de futebol. E assim, da esquerda à direita, dos ricos aos pobres, dos funcionários públicos sem subsídio mas com posto de trabalho a trabalhadores do privado esmifrados contra a parede, todos se juntam na gloriosa marcha antilicenciatura como se disso dependesse a descoberta de um bosão alternativo.
A duvidosa licenciatura de Miguel Relvas é talvez o menos importante dos nossos problemas – embora a relação de Miguel Relvas com as secretas não o seja. E, no entanto, toda a polémica das secretas, por junto, não provocou este toque a reunir num povo que, um ano após experimentar os prazeres da troika, se mantém sereno e agradecido. Dizem as sondagens que a maioria dos portugueses votaria outra vez nos guardas do campo de concentração da troika, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
É mais perigosa para o país a licenciatura pela Universidade Católica de Vítor Gaspar (e o doutoramento pela Nova aplaudido nos corredores de Frankfurt) do que a pobre licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais da Lusófona que, rigorosamente, não serve para nada nem mal nenhum traz ao mundo.
A licenciatura de Relvas serve um propósito essencial em tempos de crise: transformar em “não assuntos” coisas desagradáveis e muito mais chatas, como a impossibilidade de cumprir o défice e as anunciadas notícias de mais austeridade. Não é que seja este um papel radioso para um ministro desempenhar, mas se o país em uníssono reclamava uma droga leve, ela aí está, grátis, despenalizada e socializadora.
Venham mais licenciaturas turbo que Gaspar, o doutor em Economia que se baralha com os números, agradece.
Ana Sá Lopes, aqui