terça-feira, 26 de junho de 2012

DISCIPLINA DE REGRESSO ÀS ESCOLAS?

Finalmente, os nossos estudantes, que não vêem senão nuvens no horizonte, mais próximo ou mais longínquo, poucas saídas no campo laboral, parece que irão ter vida mais difícil com a Revisão do Estatuto do Aluno que era permissivo e redutor da função do professor e da Escola.

Mas é na disciplina e no respeito que se há-de formar o carácter das novas gerações. O facilitismo, o abuso, o bater no professor ou tosar no colega, com público abúlico a assistir, não faltando o repórter avisado para a reportagem no Face Book, só podem desaguar em deformações mentais, quando a escola não pode ser um campo de ensaio para futuros marginais.

 

A juntar a tudo isto, há em muitos a pouca vontade de estudar, sabendo que é quase “obrigatório” passar de ano, não vão os meninos ficar com traumas… Isso voltou a estar bem patente nas baixas, quase vergonhosas, notas a Matemática e Português, “as bestas negras” para os alunos. Culpa da escola e dos métodos ou da pouca ou nenhuma aplicação do aluno?
 
 
A revisão do Estatuto é importante, tal como a medida anunciada da fixação de vagas no ensino superior público, medida que chegou tarde de mais. Não se entende porém que a inibição de aumento de vagas não abranja o ensino privado. Ao longo destes anos todos, saíram fornadas de doutores e engenheiros, advogados e economistas, ultimamente para o desemprego. Um país de engenheiros e doutores, quando eram mais necessários cursos médios, o regresso das escolas comerciais e industriais.
Esta revisão do Estatuto do Aluno e Ética Escolar, que irá ser debatida na Assembleia da República, no próximo dia 6 de Julho, vem pôr o dedo na ferida, responsabilizar o aluno e os pais. Estes passam a ser responsabilizados pelas faltas e comportamentos dos filhos. Estão mesmo previstas multas para os pais incumpridores e mudanças de turma ou mesmo expulsões. Além disso, o prazo de suspensão passa de dez para doze dias. Quando houver danos materiais, o director da escola pode determinar a obrigação do aluno reparar o material ou indemnizar a escola.
Uma outra medida que contempla esta proposta do Ministro de Educação, Nuno Crato, é que, a partir do próximo ano lectivo, os professores, que têm vindo a ser ofendidos e humilhados pelo poder nos últimos anos, ficarão com mais liberdade de acção e mais soltos de tanta burocracia. Até agora, reinava grande indisciplina nas escolas sem que os professores, sempre responsabilizados por tudo quanto de mau ali ocorria, e sobretudo desautorizados, pudessem fazer muito para mudar o rumo das coisas.
A revisão do Estatuto do Aluno que só tinha todos os direitos e quase nenhuns deveres, nem o da boa educação, que há-de vir de casa, pode vir lançar o patamar da disciplina. Sem ela, não há ensino que valha, nem uma geração futura alicerçada nas boas práticas de cidadania. Não será certamente a inteira reforma que o Ensino e a Escola precisam, mas, inegavelmente, já é um bom princípio que, se não vai acabar com as “brincadeiras”, será pelo menos um travão. É, sem dúvida, uma ideia melhor do que a criação dos mega-agrupamentos que, segundo alguns, serão ingovernáveis.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 21 de Junho de 2012