Na semana anterior falei de como
a hipocrisia e tentativa de não ver o óbvio desencadeou uma guerra brutal em
meados do século passado na Europa.
A Europa é pródiga na gestação deste tipo
de problemas. Tem sido assim ao longo dos séculos.
Um exemplo muito recente destas desconfianças. A Espanha não se cansa de reivindicar Gibraltar. Tem-no feito consistentemente no século XX e XXI. Franco até quase sitiou a possessão inglesa.
Em Espanha, na senda dessa pretensão empertigaram-se de tal forma, que a visita dum membro da casa real inglesa ao rochedo mais famoso da península ibérica, desencadeou uma retaliação surpreendente. A sua rainha, que até é grega, foi impedida de participar na festa dos 60 anos de reinado, de Elisabeth II. Os ingleses aborreceram-se tanto quanto o ficaram quando, com alguma sorte destroçaram a Invencível Armada.
A Espanha esqueceu-se que deu aos ingleses,
pelo tratado de Ultrec a dita praça-forte mediterrânica, na sequência da guerra
da sucessão espanhola para evitar perdas maiores, quando por vaidades
familiares, queriam reinar em vários tronos europeus. Claro que a mesma Espanha
também se esqueceu que dois referendos recentes no rochedo preferem a filiação
britânica do que a coroa espanhola.
A memória espanhola é mesmo
curta. O país vizinho que ocupa ainda hoje militarmente Olivença, não tem
lembrança desse fato, nem de ter assinado um compromisso em 1817 onde se
comprometeu a devolver essas terras aos lusitanos. É a hipocrisia da política e
os interesses de alguns que se atravessam no caminho de todos.
Passados mais 50 anos desde a
fundação da CEE, de longe a melhor ideia que o velho continente produziu, estes
acontecimentos continuam a minar a confiança. Alguns europeus começam a ter a
perceção de que os países periféricos ganharam muitas infraestruturas mas perderam
a indústria, a subsistência e autonomia. Não sei se foi esta a ideia dos
fundadores europeus!
António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 24 de Maio de 2012