Segundo o que normalmente se julga, as pessoas, perante situações limite, ou lidam com o stress de forma negativa e ficam incapazes de reagir ou, encaram a situação de forma positiva e dominam-na através atitudes e ações que poderão, a posteriori, ser consideradas heroicas.
Contudo, esta é uma ideia é errada. A maioria de nós tende a comportar-se perante situações de grande anormalidade e perigo de uma forma estranhamente calma – como se tudo no cenário de crise fosse comum.
Quase ninguém se deixa imobilizar pelo medo nem é movido por instintos destemidos. Tendemos, simplesmente, a ignorar a crise e a pensar, sentir e agir tal como se nada tivesse acontecido.
Há, nas tragédias, quem gele e quem seja temerário, mas tratam-se de qualidades que não são desencadeadas pela situação, antes traços de personalidade que se cumprem também em circunstâncias extraordinárias.
As pessoas, como os rios, variam as suas reações de acordo com a sua profundidade. Mas, a maior parte da sociedade é radicalmente superficial.
O maior risco desta não gestão de crise é ignorar os perigos e não os enfrentar. Em muitas situações, as pessoas, alimentadas por um optimismo bacoco, até têm um sorriso nos lábios mas não deixam de morrer por causa disso.
Este estado de apatia, estranhamente normal, impede, de facto, que se cometam erros graves, mas também nada faz para salvar o que é importante. Parece preferir ignorar.
Perante uma tragédia, sentar-se e esperar que passe é, na verdade, correr de forma clara, decisiva e fatal em direção ao centro da desgraça.
José Luís Nunes Vicente, aqui
