terça-feira, 8 de maio de 2012

ERA UMA VEZ...

O DRAGÃO ARNALDO

"Quem disse que não há dragões?
Eu vi um pequenino a sair debaixo de um vaso de sardinheiras. Deitou-me a língua de fora e foi-se embora, a correr.

Ainda está verde. Quando crescer, vão ver. Vai ter o corpo todo coberto de escamas a valer e em cada escama o monograma: 'D A' entrelaçados - Dragão Arnaldo. Muito prazer em conhecer."
- Que estás para aí a inventar? - perguntou a mãe ao Joca, que isto estava a contar.
- Fui eu que vi um dragão, mãe, um dragão pequenino. Quando crescer, vai tomar conta desta varanda. Vais ver. E quando quiseres estender a roupa hás-de ter que pedir ao dragão "Com licença, com licença", para ele te deixar pendurar a roupa naqueles cornos agudos, que os dragões têm nas costas.
- Cortava-se a roupa toda - disse a mãe, entrando na brincadeira.
- Pois é, mãe. Não me tinha lembrado. Mas, por outro lado, não vais precisar de gastar o gás do fogão.
- Porquê? - quis saber a mãe, um pouco intrigada.
- Porque, quando quiseres assar um pargo ou fazer carne assada, basta que abras a boca do dragão, que é um forno sempre aceso, como não há outro.
- E, se ele me comer o peixe ou a carne, que jantamos nós? - quis saber a mãe.
- Pois é, mãe. Não me tinha lembrado. Mas parece que os dragões são vegetarianos...
- Tens a certeza? - perguntou a mãe.
- Absoluta. Por isso é que eles são verdes.
- E onde vamos arranjar erva para alimentar o dragão? - interrogou-se a mãe. - Se uma alface chegasse...
- Pois é, mãe. Não me tinha lembrado. Vamos ter de levá-lo a passear até à Tapada da Ajuda, para se alimentar de relva e de verduras. Para pastar.
Neste ponto, disse a mãe:
- Mas assim que o vissem, os meninos fugiam e, mais dia menos dia, ficava a Tapada vazia de pessoas e vegetação. As árvores despidas, as crianças assustadas, porque o dragão tudo comia e não deixava nada.
- Pois é, mãe. Não me tinha lembrado. Afinal o dragão era uma complicação. Vou dizer à lagartixa que fique como está. Já não precisa de crescer.
Nessa altura, a lagartixa passou a correr e esta história acaba como deve de ser.


António Torrado e Cristina Malaquias, aqui