A ministra Assunção Cristas deu, até agora, a única resposta interessante
sobre o pós-1.o de Maio do Pingo Doce: comprometeu-se a divulgar trimestralmente
o diferencial de preços dos bens alimentares entre o produtor e o
consumidor.
Trata-se de uma solução em que o consumidor pode
controlar constantemente as flutuações de preços e passar à prática a ideia de
comer melhor e mais barato. Aproveitando tudo o que a nossa terra nos pode dar,
o que, em princípio, está mais de harmonia com o que pede o nosso corpo.
E nos
pode preservar, em especial os nossos descendentes, de múltiplas doenças
derivadas de alimentações inadequadas ao meio ambiente, patrocinadas pela
padronização das grandes quantidades em que se baseia o negócio das
multinacionais de produção e distribuição.
Assunção Cristas tem a seu cargo e função um superministério, com duas
frentes que implicam revoluções: a da conservação do ambiente e a da retoma da
agricultura e das pescas, sendo que ambas se inscrevem perigosamente em
políticas europeias muito assediadas por lóbis transnacionais.
Coragem, portanto.
Para já, saudemos a promessa de uma efetiva exibição do diferencial de
preços. Ela permitir-nos-á ganhar consciência de quem lucra o quê no mercado
essencial dos bens alimentares. E também ganhar consciência dos alimentos com os
quais podemos poupar em mercearia e em medicamentos.
Se este processo nos levar
a educar as gerações futuras para uma alimentação mais sadia, ainda podemos
acabar a rir deste estranho 1.o de Maio.
Quanto à operação propriamente dita, estamos conversados: foi um enorme golpe
de marketing, venha, ou não, a confirmar-se que nos azeites, nos arrozes ou nos
uísques os preços de venda tenham descido abaixo dos preços de custo.
De resto, foi a concentração numa data histórica que deu força mediática a
esta operação do Pingo Doce, cuja estratégia se baseou na extensão do velho e
relho conceito de saldos, nos últimos anos ele próprio desdobrado em saldos de
saldos.
Com o empobrecimento galopante em que vivem os europeus, muito mais
importante que os detalhes sobre se foi ou não fora de jogo, ou seja, se o Pingo
Doce praticou ou não "dumping", serão porventura os efeitos que poderão ter
produzido o aprovisionamento das despensas nas tão enfatizadas poupanças das
famílias.
Falta também conhecer como funcionaram os cartões de crédito neste 1.0º de
Maio: imaginemos que o Pingo Doce capitalizou 100 milhões de euros nesse dia e
que esse dinheiro não volta tão cedo às contas dos bancos
portugueses...
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