sábado, 5 de maio de 2012

E DEPOIS DO... PINGO DOCE

A ministra Assunção Cristas deu, até agora, a única resposta interessante sobre o pós-1.o de Maio do Pingo Doce: comprometeu-se a divulgar trimestralmente o diferencial de preços dos bens alimentares entre o produtor e o consumidor.

Em Espanha, essa é uma prática instalada desde o início da presente crise económica e social com um modelo mensal de um cabaz de compras representativo da dieta espanhola recomendável.

Trata-se de uma solução em que o consumidor pode controlar constantemente as flutuações de preços e passar à prática a ideia de comer melhor e mais barato. Aproveitando tudo o que a nossa terra nos pode dar, o que, em princípio, está mais de harmonia com o que pede o nosso corpo.

E nos pode preservar, em especial os nossos descendentes, de múltiplas doenças derivadas de alimentações inadequadas ao meio ambiente, patrocinadas pela padronização das grandes quantidades em que se baseia o negócio das multinacionais de produção e distribuição.

Assunção Cristas tem a seu cargo e função um superministério, com duas frentes que implicam revoluções: a da conservação do ambiente e a da retoma da agricultura e das pescas, sendo que ambas se inscrevem perigosamente em políticas europeias muito assediadas por lóbis transnacionais.

Coragem, portanto.

Para já, saudemos a promessa de uma efetiva exibição do diferencial de preços. Ela permitir-nos-á ganhar consciência de quem lucra o quê no mercado essencial dos bens alimentares. E também ganhar consciência dos alimentos com os quais podemos poupar em mercearia e em medicamentos.

Se este processo nos levar a educar as gerações futuras para uma alimentação mais sadia, ainda podemos acabar a rir deste estranho 1.o de Maio.

Quanto à operação propriamente dita, estamos conversados: foi um enorme golpe de marketing, venha, ou não, a confirmar-se que nos azeites, nos arrozes ou nos uísques os preços de venda tenham descido abaixo dos preços de custo.

De resto, foi a concentração numa data histórica que deu força mediática a esta operação do Pingo Doce, cuja estratégia se baseou na extensão do velho e relho conceito de saldos, nos últimos anos ele próprio desdobrado em saldos de saldos.

Com o empobrecimento galopante em que vivem os europeus, muito mais importante que os detalhes sobre se foi ou não fora de jogo, ou seja, se o Pingo Doce praticou ou não "dumping", serão porventura os efeitos que poderão ter produzido o aprovisionamento das despensas nas tão enfatizadas poupanças das famílias.

Falta também conhecer como funcionaram os cartões de crédito neste 1.0º de Maio: imaginemos que o Pingo Doce capitalizou 100 milhões de euros nesse dia e que esse dinheiro não volta tão cedo às contas dos bancos portugueses...

Retirada daqui