As ditaduras do século xx sempre combateram os modelos tradicionais de família, que funcionam como bolhas de oxigénio numa sociedade sufocada pela pressão do controlo.
Trespassada por uma profunda crise por causa do refinamento da cultura individualista orientada para uma perspectiva niilista pela sociedade de consumo, a destruição do modelo de família judaico-cristão nas suas diversas adaptações deveria ser interpretado como um sério alerta sobre a decadência civilizacional a ocidente.
Talvez seja tarde para a inversão da vertiginosa atomização social de que somos testemunhas passivas, mas parece-me que vale a pena um sonoro alerta, na perspectiva dum movimento, de uma revolução para o resgate do conceito de família “compromisso”, muito para além da sua “fracção” nuclear.
Talvez seja tarde para a inversão da vertiginosa atomização social de que somos testemunhas passivas, mas parece-me que vale a pena um sonoro alerta, na perspectiva dum movimento, de uma revolução para o resgate do conceito de família “compromisso”, muito para além da sua “fracção” nuclear.
Refiro-me à recuperação da família como emblema, marca a que aderem livremente os seus membros, a um modelo mais ou menos alargado que promove o sentido de pertença e a auto-estima, que seja, além de uma privilegiada rede de afinidades e solidariedade, um espelho de modelos, exigências e afectos, um centro de difusão de competências e vocações, com as suas lideranças naturais. Todos conhecemos apelidos e linhagens, em que um ou mais membros pelo seu mérito intelectual e profissional, vocação e coerência, vieram a tornar “marcas reconhecidas”, casos de sucesso que prevaleceram para as novas gerações.
Acontece que a família alicerçada como projecto perene, com todos os seus defeitos e potenciais arbitrariedades, constitui o mais salutar bastião do livre arbítrio do indivíduo.
Falamos na defesa da liberdade. Para a sociedade, em termos latos, a família constitui o garante duma essencial diversidade estética e cultural: cada uma possuidora do seu legado de informação e património económico-cultural, afirma um insubstituível microcosmos, qual espelho e plataforma de mediação dos seus elementos com a comunidade e com o mundo, em que a liberdade é promovida no equilíbrio com a responsabilidade de uns em relação aos outros… e com a sua história.
Este factor é extremamente útil para um privilegiado desenvolvimento das novas gerações. Além de tudo o mais, as estruturas familiares mais sólidas potenciam uma resistência inteligente à massificação e à submissão dos indivíduos aos mecanismos despóticos de controlo social emergentes, como as avassaladoras modas impostas pelo mercado e... pelos estados demasiado intrusivos.
É fácil entender porque é que as mais cruéis ditaduras do século xx sempre combateram os modelos tradicionais de família, que tendem a funcionar como autênticas bolhas de oxigénio numa sociedade sufocada pela pressão do controlo.
Finalmente, considero uma causa algo obscura o extremo individualismo promovido pelas correntes liberais de costumes, hoje em dia patrocinadas pela generalidade dos poderes políticos. Talvez porque sem referências sociológicas e culturais consistentes as pessoas se podem tornar mais vulneráveis, qual papel em branco fácil de ser preenchido e doutrinado por qualquer sinistro poder.
João Távora, aqui