domingo, 27 de maio de 2012

CATÓLICOS A MAIS, CRISTÃOS A MENOS

É comum, no decorrer dos tempos da história humana, para todos os quadrantes das actividades e ideias, tanto sociais como políticas ou, sobremaneira, na perspectiva dos credos religiosos e de fé, haver soçobros e crises reais e também aparentes.

Nessas circunstâncias e períodos não deixam de aparecer os pregoeiros, profetas da desgraça e calamidades catastróficas, pretendendo abalar os alicerces de tudo, até daquilo que não se funda em meras bases materiais pois possui uma raiz de e para a eternidade.


Promovem-se, desabridamente, os temores e pânicos sobre tudo quanto pertence a um âmbito desconhecido esotérico.


A falta de reflexão calma e prudente terá, na realidade, consequências inesperadas, sem razão, inadequadas e extemporâneas.

Aqui surgem, vindos de todos os cantos, alguns orquestradores de promessas, veiculando esperanças esvaziadas.

As crises agudizam-se quando os agentes responsáveis comprometidos, mas acomodados, se deixam adormecer no embalo da sereia.

Aí é fácil “prever” a derrocada e fim de uma época de ideais e certezas que passarão para o rol dos desesperos ou facilitismos.

Há dias atrás, fazia parte das agendas noticiosas a declaração bombástica da diminuição ameaçadora do número de católicos no país. Logo de levantaram contadores de histórias desagradáveis do terror, arautos do infortúnio e ruína final.

Ora, quando se faz depender a eficácia da acção dos números mais ou menos dilatados, o teor e força da graça salvífica deixará de produzir frutos de Salvação. O certo é que Cristo veio tornar-Se um de nós para congregar todos os homens, sem diferenciação sobre ninguém, num só redil, conduzido por Si, como único Pastor. A Sua presença é a única Verdade com garantia insofismável.

Também é urgente, e convém, nós não deixarmos o alarme ensurdecer-nos mas que faça acordar as consciências para a efemeridade dos bens procurados e dos deuses que se forjam consoante os interesses da época e do sector sociológico. Porque isso arrasta consigo uma avalanche de lugares-comuns sem profundidade e criadores de sonhos e desilusões.

Os ídolos sustentados no dinheiro, sexo, poder, prestígio, posições empresariais cimeiras, beleza, vida fácil e descomprometida, conduzirão inevitavelmente à negligência da procura dos valores essenciais, como o são a personalidade e a alma.

Quando se despromove a família, em si mesma, no seio da qual deveriam vigorar o respeito e a comunhão fundamentados nos alicerces de Deus, a outra família, chamada Igreja, parece desmoronar-se sem ajuda nem apelo.

Contudo, soe dizer-se, a esperança será a última coisa a ser vencida e, sabendo-se que essa mesma Igreja tem a sua razão de existir na sobrenaturalidade, não vai temer-se qualquer derrocada na essência. Pensamos, isso sim, que há católicos, de tradições, a mais e cristãos a menos. O epíteto nada importará mas subentende-se o compromisso, o empenhamento e a convicção pessoal interior de que “sem Mim nada podeis fazer”  (Jo.15,5).

Num mundo frívolo e de facilidades, a qualidade há-de superiorizar-se à quantidade.

Ele, o mundo dos homens (católicos), pode querer entrar em trevas, mas o Cristo continuará a revelar-Se como a imprescindível Luz verdadeira.

Padre Manuel Armando, no 'Jornal da Bairrada' de 24 de Maio de 2012