
Recordar a "Revolução dos Cravos", passo a passo, como se estivesse a acontecer hoje, é uma iniciativa que a Universidade de Coimbra (UC) vai pôr em prática durante 24 horas, convidando os cidadãos a acompanhá-la pela rede social “facebook”
"No fundo é pegar na ideia mais ou menos conhecida da iniciativa do Orson
Welles com a guerra dos mundos. No caso do Orson Welles, foi recriada uma
chegada à terra dos marcianos, no nosso caso é uma tentativa de recuperar o
tempo e colocar [no 'facebook'], como se estivesse a acontecer, um conjunto de
factos que já foram vividos há 38 anos", explicou à agência
Segundo Rui Bebiano, com esta iniciativa pretendeu-se "fazer diferente" da
"forma ritualizada" de evocação da revolução democrática de 1974, que "muitas
vezes já não é compreendido pelas pessoas mais jovens".
Utilizando o acervo disponível no Centro de Documentação 25 de Abril, os
cidadãos vão poder acompanhar a revolução à imagem do que se viveu nos seus
bastidores, podendo ter acesso aos planos militares, documentos, fotos, sons e
vídeos.
"Vão ser 24 horas muito preenchidas. Várias vezes em cada hora, teremos
sempre factos, acontecimento e episódios a contar", afirma Rui Bebiano.
Com base no registo militar das operações no Posto de Comando do Movimento
das Forças Armadas (MFA), propõe-se uma viagem no tempo - em tempo real -
através da publicação dos registos de informação provenientes das chamadas
telefónicas escutadas e recebidas através do sistema de comunicações instalado
no Posto de Comando do Movimento, explicam os promotores.
A iniciativa começa às 22 horas de dia 24 de abril, altura em que, há 38
anos, os seis oficiais já estavam no Regimento de Engenharia 1 no Quartel da
Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de
Comando do Movimento.
Tanto conversas intercetadas nas redes militares usadas pelas unidades afetas
ao regime, como as conversas telefónicas efetuadas pelas unidades envolvidas no
MFA, bem como os vários momentos marcantes desse dia serão divulgados, ao longo
de 24 horas, numa cronologia em tempo real.
A principal fonte usada é o documento de 52 páginas que Lopes Pires, um dos
oficiais presentes, confiou ao Centro de Documentação 25 de Abril. Desse
documento e de uma entrevista coletiva aos "capitães" Amadeu Garcia dos Santos,
Hugo dos Santos, José Eduardo Sanches Osório, Nuno Fisher Lopes Pires, Otelo
Saraiva de Carvalho e Vítor Crespo, resultou o livro "A Fita do Tempo da
Revolução, A noite que mudou Portugal".
Para Rui Bebiano, esta iniciativa visa ainda alargar o número das pessoas que
se possam interessar pelas atividades do Centro de Documentação 25 de Abril e,
numa altura de crise, evidenciar que em qualquer situação histórica, de forma
coletiva, é possível resolver as dificuldades.
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