Recordo a altura em que ler-se um Jornal, ao
Domingo, era de bom-tom, mesmo sendo ele diário.
Aí, havia mais espaço para a
leitura e o ardina vendia maior quantidade de exemplares, no final da Missa na
aldeia.
Porém, as circunstâncias e momentos
evoluíram, alteraram-se as exigências de cultura e informação que acompanham
sempre as vicissitudes da sociedade.
Todavia, desconfio se hoje, comparativamente,
são mais comprados e lidos os Diários ou se estes vão perdendo terreno em favor
das Revistas e outras publicações cor-de-rosa que se apresentam em gritante
inutilidade no concernente à formação humana, ou ao respeito e conservação dos
valores, tanto inalienáveis quanto intocáveis.
O dever construir uma sociedade sã,
respeitadora e co-responsável deverá caber, como tarefa, a quantos a isso se
expõem, por imposição profissional ou no exercício de liberdades pessoais.
De frente a quem manifesta opiniões, noticia
acontecimentos ou promove eventos e outras coisas variadas, estão as pessoas
com diversos modos de pensar ou sentir e desenvolver a vida.
É natural que haja empresas às quais presida
somente o fito do lucro pela quantidade de papel vendido. Quando assim sucede,
lastimamos semelhante procedimento e, nada podendo empreender em contrário,
recusaremos a compra e respectiva leitura.
Se a finalidade da informação e, sobretudo, de
formação não é o objectivo principal de determinadas publicações, cumpre-nos
denunciar. Ninguém nos ouvirá, mas em contrapartida, realizámos um compromisso
moral natural.
Há alguns dias atrás, folheei um Diário de
âmbito nacional. Comentei, para mim, e pasmei com tais bases, propostas para
cultura geral. O seu recheio incluía: um pequeno artigo de opinião; três ou
quatro notícias pouco desenvolvidas; promoção da moda, pelo espaço de cinco
páginas; anúncio de venda de casas ou carros e outros, duas páginas; desporto,
três páginas; informação de óbitos ocorridos numa certa zona; quarenta e sete
notícias de pequenos ou grandes crimes; e, ainda, três páginas completadas por
duas centenas de “traseiros” e outros “apêndices” femininos, anonimamente fotografados,
claro, em quadrículas, juntando também os números de telefone, bem expressos, a
incentivar à pornografia e promovendo a profissão, dita a mais velha do mundo.
Na verdade, um escaparate deste jaez, repleto
de banalidades conducentes à derrocada das comunidades que se desejariam com
sanidade, não leva, de forma nenhuma à felicidade cultural bem informada mas, muito
pelo contrário, encaminha para um poço fundo onde se topará apenas a escuridão,
alienante e vazia.
Padre Manuel Armando, no 'Jornal da Bairrada' de 19 de Abril de 2012
Padre Manuel Armando, no 'Jornal da Bairrada' de 19 de Abril de 2012