
Novo romance de Rosa Montero, Lágrimas na chuva não esconde que se trata de uma homenagem ao lendário Blade runner, de Philip K. Dick. Mas a segunda incursão da autora de A louca da casa pelo género de ficção científica, mais de duas décadas decorridas sobre a primeira, está longe de cingir-se aos contornos futuristas.
“A ficção científica não está divorciada da realidade. Pelo contrário. Ajuda-nos a conhecê-la melhor, mesmo que através de metáforas. Infelizmente, em Espanha confunde-se este género literário com maus telefilmes, repletos de esoterismo e marcianos de orelhas bicudas”, lamenta.
A trama futurista não foi impedimento para que a romancista dissertasse no livro sobre os seus temas de eleição, como a identidade, a memória, a luta pela sobrevivência e a morte, a qual considera “uma aberração, algo antinatural e inconcebível”. E concretiza, defendendo que “todas as ações humanas, sejam literárias, históricas ou religiosas, são uma tentativa de lutarmos contra a morte”.
O desenvolvimento tecnológico ao longo da História não convence por inteiro a escritora, para quem a condição humana, pese embora todas as transformações que desencadeou, não mudou assim tanto ao longo dos anos: “É por isso que ainda hoje nos emocionamos tanto com histórias escritas há dois mil anos”.
Com Bruna Husky, a detetive que protagoniza o livro, criou uma relação de proximidade, a mais forte que desenvolveu até hoje com uma personagem. Rosa Montero revê-se na fúria de viver de Husky, mas afasta a hipótese de ter criado uma réplica à sua imagem. “Ela é uma pantera, como gosto de me ver, mas muito ampliada”, admite, esperançosa de que Lágrimas na chuva possa contribuir para esbater os estereótipos que ainda rodeiam a ficção científica, género em que tem como mestres, além de Philip K. Dick, Brian Aldiss ou Ursula K. Le Guin, "uma das maiores escritoras do século XX”.
A par da literatura, o jornalismo é outro dos eixos da vida da autora de Instruções para salvar o Mundo. A jornalista do El Pais, periódico onde colabora desde 1976, vê com preocupação a crise que assola a comunicação social mas rejeita cenários catastrofistas, porque “o jornalismo não vai morrer”. “O que estamos a assistir é a uma mudança de suportes e ferramentas, porque os jornalistas vão continuar a ser necessários. O jornalismo dos cidadãos não existe sem a mediação dos profissionais da comunicação social”, diz.
(Sérgio Almeida)
TÍTULO: Lágrimas na chuva
TÍTULO: Lágrimas na chuva
AUTORA: Rosa Montero
EDITORA: Porto Editora
PREÇO: 16.60 euros
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