Porque o conceito cultural é muito transversal e diversificado, e porque existem vários tipos de personalidades permitimo-nos, por uma questão de antecipação, avançar desde já com os perfis-tipo dos oliveirenses, afinal os utentes e frequentadores desse futuro polo de cultura concelhio.
Oliveirense basicamente inculto: porque não perde um único espectáculo deste
artista na EXPOFACIC, em Cantanhede, sentir-se-á frustrado se não houver
programação que inclua, pelo menos, quatro espectáculos por ano do Tony
Carreira no futuro Centro Cultural. Vê habitualmente a TVI e só muda para a
RTP1 para assistir ao Preço Certo em Euros e para a SIC para acompanhar as
peripéfias da Floribella. Aos domingos frequenta o Feira Nova de Águeda e o
Carrefour, em Aveiro, vestindo um magnífico fato de treino de contra-facção,
vermelho, verde ou azul. Lê os livros dos concorrentes dos reality-shows e
elege o Manuel Luís Goucha como o português com quem gostaria de almoçar. Janta
no Mc’Donalds do Fórum, e depois vai ao cinema onde come pipocas alarvemente e
indigna-se porque a Academia ainda não atribuíu um Óscar ao Van-Dame. É fã dos
programas do António Sala, tem nas anedotas do Fernando Rocha o êxtase da
diversão e não perde as análises comportamentais do Cláudio Ramos e da taróloga
Maya. Vota no PS para as autárquicas mesmo que nunca tenha ouvido falar do
cabeça-de-lista. Dá o que tem e ainda pede crédito para poder passar uma semana
de Agosto num T0 em Armação de Pêra ou Quarteira, com o resto da família.
Oliveirense medianamente inculto, mas com
esperanças de melhorar:
vai ao Glicínias a Aveiro comprar livros mas apenas consegue ler o índice e o
prefácio, a seguir decora a prateleira com as aquisições para os amigos verem.
Compra os CDs da Shakira e do Boss AC mas ouve às escondidas o José Malhoa e o
José Cid. Gosta de aparecer na televisão e por isso tenta concorrer ao Um
contra Todos, mas não passa da segunda pergunta dos que estão sentados na
bancada com um número luminoso à frente. Entra nas galerias de arte de entrada
livre e começa a dizer que também era capaz de fazer igual. Nas autárquicas
vota alternadamente no CDS ou no PSD, dependendo do candidato a líder. Marcará
presença no Centro Cultural de Oliveira do Bairro em todos os concursos de Miss
Bairrada, não perdendo a oportunidade de virar costas ao palco para ver os
famosos que estiverem a assistir ao desfile.
Oliveirense em transição para o medianamente
esclarecido, mas com altos e baixos: gosta de ler os livros da Margarida Rebelo Pinto porque tem poucas
páginas. Está com vontade de ler o José Rodrigues dos Santos mas hesita devido
ao volume dos livros. Interessa-se por música e ouve umas coisas interessantes,
essencialmente em língua portuguesa. É capaz de aguentar até ao intervalo um filme
do Manoel de Oliveira e adorou ver a versão moderna do Crime do Padre Amaro.
Ouve a RFM e a Rádio Comercial, acha piada ao Nuno Markl e sorri timidamente
com as piadas do José Carlos Malato. Gosta de ir à loja da Valentim de
Carvalho, no Dolce Vitta do Porto e entretém-se a ouvir música nos
auscultadores de consulta dos CD’s. Usa um i’POD. Adora ir à Serra da Estrela
na passagem do ano. Assiste medianamente interessado aos telejornais. Estará
presente no Centro Cultural de Oliveira do Bairro sempre que o Pelouro da
Cultura da autarquia aí organizar um qualquer evento. Só vota nas
autárquicas se não estiver a chover e por uma questão de mania, coloca sempre a
cruzinha no terceiro quadrado.
Oliveirense moderadamente culto, e com
tendência para evoluir
– Apesar de ainda não ter conseguido ler até ao fim nenhum livro do António
Lobo Antunes, interessa-se por autores portugueses, mas também gosta da Isabel
Allende. Leu o Equador, do Miguel Sousa Tavares, em 10 meses e quando chegou ao
final ficou com a sensação que já conhecia a história. Vai com frequência aos
cinemas do Fórum, em Coimbra, e incomoda-se com o barulho que os energúmenos
fazem ao engolir alarvemente pipocas e ao sorverem a Coca-Cola por palhinhas.
Assiste sempre à cerimónia da entrega dos Óscares e chega a acertar em alguns
dos galardoados. No Verão gosta de viajar, preferindo as Caraíbas ou o Brasil,
e no Inverno, uma vez por outra, mete-se dentro do carro e vai ao Gerês. Na
Páscoa e numa quinzena em Julho vai para Albufeira ou arredores. Vota sempre em
função do desempenho de cada Executivo Municipal. Admite a possibilidade de
entrar no Centro Cultural de Oliveira do Bairro se, e quando, aí se realizar
algum espectáculo de música moderna, portuguesa ou estrangeira, nomeadamente do
Rui Veloso, do Luís Represas, do Robbie Williams ou dos U2.
Oliveirense simplesmente culto – Deixou de ler o Saramago porque já há
muita gente a ler. Detesta tudo o que os outros gostam. Prefere ler livros que
ninguém conheça e que não cheguem à 3ª edição em menos de 15 dias como o do
Santana Lopes. Gosta de ver curtas-metragens que ninguém entende e cinema
europeu, não comercial. Faz férias nos países nórdicos, mas tem vontade de
conhecer outras paragens, nomeadamente a Ásia e o Médio Oriente. Tem horror às
praias da Barra, Costa Nova, Vagueira e até mesmo do Algarve e não suporta a
ideia de ir a uma praia onde estejam mais de cinco pessoas. Ouve a Antena 2, vê
a RTP2 e o canal Mezzo. Vai todos os anos ao Cascais Jazz e detesta concertos
com música alta. Aprecia jantares intimistas com amigos onde se possa discutir
as novas tendência da música e da literatura. Só frequenta galerias de arte com
entrada paga e já esteve várias vezes no Guggenheim em Bilbao. Gosta de
arte contemporânea e tem orgasmos psicológicos com as instalações do Pedro
Cabrita Reis. Mora no concelho mas nem conhece os vizinhos do lado nem os
lugares limítrofes. Nunca vota nas autárquicas nem conhece os candidatos. É-lhe
indiferente que Oliveira do Bairro venha, ou não, a ter um Centro Cultural,
porque nunca lá irá pôr os seus pés!
Alma de Deus
(Em reposição: anteriormente publicado no extinto http://blog.oliveiradobairro.net/)
Alma de Deus
(Em reposição: anteriormente publicado no extinto http://blog.oliveiradobairro.net/)