terça-feira, 27 de março de 2012

A IMAGEM E A REFORMA DE RELVAS

O ministro Miguel Relvas tem fama de ser centralista. Na inteira aceção da palavra: pela quantidade de decisões políticas relevantes que estão sob a sua responsabilidade e porque a anterior reforma administrativa que tentou impulsionar foi vista como a pulverização da ideia de regionalização pelo multiplicação de núcleos e agrupamentos municipais.
Ter o poder e não o exercer ou distribuí-lo para diluir responsabilidades é o que mais há na política portuguesa.

E do que menos precisa o nosso Portugal nesta fase em que se torna imperioso valorizar o trabalho e o tempo de cada cidadão.
As próprias circunstâncias desta crise estão a valorizar decisões pragmáticas, aquelas que possam ter efeitos práticos a curto prazo. É precisamente neste plano e perante a necessidade orçamental de emagrecer o Estado que o pragmatismo de Relvas parece bom para o essencial: tratar melhor as populações com menos dinheiro.
Relvas tem razão quando afirma que é preciso olhar para o território e ordená-lo melhor. É uma evidência para quem viaja pelo País real em dias de trabalho: há terras em que não faz sentido o servicinho das Finanças e outras em que está bem de ver que falta equipamento e recursos humanos para a ação social de que o Estado é responsável. E podemos multiplicar ou dividir estas distorções produzidas por municipalismos tribalistas em áreas tão decisivas para os utentes e os contribuintes como hospitais ou tribunais.
Sou dos que pensam que subornos, corrupções, amiguismos e clientelismos sentam-se sobretudo à mesa do Poder Central. Mas tenho a consciência de que no Poder Local há mimetismos dessas promiscuidades. E acredito que o aperfeiçoamento das decisões políticas em razão do conhecimento próximo das necessidades das populações, passa desde já pela tentativa de racionalizar e qualificar os serviços públicos.
Não resolveremos todos os problemas da nossa democracia dando aos serviços que o Estado tem de prestar lógica territorial e demográfica num quadro de razoabilidade financeira em que seja evidente entre vizinhos de quem mais necessita é quem mais é ajudado. Mas se conseguirmos qualificar os serviços públicos e eliminar sobreposições e redundâncias que encarecem várias funções do Estado, acredito que as políticas melhorem. E até que seja mais fácil unir e fundir municípios aumentando-lhes a massa crítica e oferecendo-lhes novos financiamentos para poderem dar resposta a novas competências na gestão de proximidade.
Mesmo para quem defenda a regionalização, a melhoria dos serviços públicos é essencial. E o pior que se pode fazer é contrapor à reforma Relvas a urgência política da eleição direta dos elementos das Juntas Metropolitanas do Porto e Lisboa.

Manuel Tavares, aqui