É que o inverno vai seco de mais e significa mau prenúncio para a cultura do nabo, que ainda muito se cultiva entre nós; com os criadores, devido à falta das pastagens naturais, a terem de ir ao país do lado comprar palha; o gado escanzelado, como a classe média, já mal se segura direito; com os viticultores a temer um abrolhamento tímido e pouco animador e vinhos de baixa qualidade; com os kiwicultores da Bairrada a recear a falta de água e sem ela uma reduzida produção. E, como se não bastasse esta desgraça, os incêndios começaram mais cedo, comprometendo o nível das barragens e os rios correm num vagar de morte.
E todos os castigados do costume ora olham para a esperança de uma nuvem que descarregue, ou já promovem procissões, acreditando num milagre, enquanto os empresários esperam uma almofada para o desenvolvimento económico. Afinal, todos estamos à espera que chova no nabal e faça sol na política económica europeia, que a seca passe depressa.
Então, a austeridade é cá uma seca que só o diabo sabe! Com a classe média cada vez com a careca mais destapada, não está fácil a vida, por qualquer ângulo que se olhe, para a procissão sofredora, também à espera de um milagre. Porém, toda esta seca ainda não matou todas as vacas gordas do Estado listadas de empresas públicas, que nos deram um prejuízo de 546,2 milhões de euros no terceiro trimestre do ano findo, buraco que temos de tapar de futuro, em vez de o governo as abater ao contingente desmesurado.
303 mil pessoas, inscritas nos Centros de Emprego não recebem subsídio, o caso Casa Pia a arrastar-se… - tudo grandes secas.
Cavaco, que afinal recebe 3 mil euros para representação, para equilibrar as despesas, quer que se fale menos de austeridade (a maior seca de sempre nos bolsos) e mais de sinais de esperança. “Não se pode somar permanentemente austeridade a mais austeridade”, disse nas Jornadas da Juventude.
Dizem todos E mais: espera sinais de inversão no fim do ano e que em 2013 “a economia já possa ter um crescimento positivo” ou seja uma lufada de ar fresco ou uns pingos de água sobre a seca. Deus o ouça.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 1 de Março de 2012