segunda-feira, 26 de março de 2012

FUTEBOL E POLÍTICA

Na semana passada soube que a Federação Portuguesa de Futebol aprovou em assembleia geral a intenção de se substituir aos clubes profissionais numa parte das dívidas que eles têm desde de 1996 para com as finanças num âmbito do chamado totonegócio.

Esta semana o governo apresta-se para ajudar as câmaras mais endividadas com um fundo especial para socorrer os municípios demasiado endividados e próximos da falência. O governo prevê uma ajuda financeira às câmaras no valor de 1400 milhões de euros. Este apoio antecipa duas alternativas; um plano de intervenção financeiro para os casos mais insustentáveis ou a transformação das dívidas a 90 dias em compromissos de médio e longo prazo.

Em ambos os casos parece que é preciso ajudar para impedir o desespero de caírem na bancarrota clubes de futebol e autarquias. Aparentemente parecem ser medidas razoáveis tanto por parte da FPF como do Governo

Mas só aparentemente. Parecem-me mesmo perversas. Como normalmente só andamos a tratar do imediato e não procuramos ver todos os lados do problema. Como bons futeboleiros só nos interessa ganhar no dia a dia . Se se criam injustiças ou buracos, quem vier a seguir que feche a porta. É uma velha sina nacional.

Como são tratados os clubes de futebol que não contraíram dívidas e sempre tiveram as suas contas em dia?

E as câmaras municipais que não têm dívidas ou quando as têm elas são perfeitamente sustentadas pelas receitas previstas? Vão tratar, na mesma câmaras em estado de coma financeiro e câmaras que nada devem (ex. Aveiro e Mealhada)?

Não me parece minimamente justo. No futebol isto chama-se beneficiar o infrator. Na política também mas com a agravante de que o infrator tem tendencialmente a cor dos governos.

Fartam-se de falar no mérito, no rigor, na transparência e propõem-se ideias destas. Pomos no mesmo barco quem gere bem e quem delapida os nossos recursos. É uma injustiça para as centenas de pequenos clubes que têm as contas em ordem com o sacrifício dos próprios dirigentes.

São verdadeiros presentes para muitos dos autarcas que se habituaram a gastar à tripa-forra e agora, porque mudam de município ou porque em ainda têm prazo de validade no seu, em vez de preteridos são beneficiados. O armado em justiceiro do ministro Relvas devia pensar um pouco antes de falar.

António Granjeia, no 'Jornal da Bairrada' de 22 de Março de 2012