quarta-feira, 28 de março de 2012

E AS CRIANÇAS QUE NÃO ALMOÇAM, DR. PASSOS COELHO?

Passemos, na sequência do texto de ontem, a analisar o discurso de Passos Coelho proferido no passado domingo, no encerramento do Congresso do PSD.

No essencial, foi um discurso excessivamente longo, prolixo, sem chama. Foi o retrato - já conhecido! - de Pedro Passos Coelho: o seu registo é aquele e não se distancia dele.

Quanto ao conteúdo, três ideias essenciais:

1) A política de liberalização da economia levada a cabo pelo governo defende o Estado Social. Aparentemente, esta asserção encerra uma contradição lógica: não será possível conjugar a retirada do Estado - ou a diminuição da sua presença! - da vida económica e social com a defesa de um modelo de Estado que zele pelos mais desfavorecidos contra as arbitrariedades e excessos do mercado.

Todavia, Passos Coelho explicou que se o Estado libertar mais recursos para o sector privado da economia, este ficará mais apto para criar emprego e apostar na internacionalização dos produtos que produzimos. Ou seja, a liberalização da nossa economia e a redução do papel do Estado é a única solução para sustentar o "Estado Social". Ora, este argumento - muito inteligente e politicamente hábil -, que Passos Coelho encontrou para responder às críticas do PS, é só parcialmente verdade. Com efeito, o modelo preconizado pela esquerda arcaica (PCP e BE) ou pela esquerda abúlica (PS de António José Seguro) não pode ser a panaceia para os nossos (muitos!) males: nem tão pouco poderemos manter o mesmo modelo de desenvolvimento que nos conduziu ao abismo (da autoria, em grande medida, das mentes brilhantes da nossa esquerda). Nós queremos - ansiamos! - por uma mudança efectiva. Repito: mudança efectiva. E Passos Coelho sabe disso - e joga politicamente com este sentimento geral do povo português (também por isso o governo mantém níveis de popularidade significativos, apesar da adopção de medidas de austeridade bastante duras). Mas atenção: as preocupações sociais não se podem limitar ao desemprego. É certo que este é o maior flagelo social, mas quem resolve a questão de saber se o serviço nacional de saúde continuará a dar resposta aos problemas dos portugueses, assegurando o acesso de todos a custos acessíveis ou a título gratuito? O Estado chamará os privados? Qual o objectivo do governo? Não sabemos - com Passos Coelho tudo é um "nim" : verdades de hoje podem ser os mitos de amanhã. E quanto à educação? Aos muitos alunos que se têm queixado - até por via do mail do Politicoesfera - que não dispõem de dinheiro para comprar uma refeição decente, porquanto o governo cortou-lhes o subsídio de senha a que tinham direito. O Estado, simplemsente, ignorou-os. Ignora-os. Dois exemplos de questões sociais prementes - que exigem resposta imediata, rápida e eficaz.

2) Passos Coelho fala muito do longon prazo e muito pouco sobre o curto prazo: é agora que os portugueses mais vão sofrer! O que fará o governo? Passos Coelho nada mencionou até agora! Não basta afirmar que os problemas dos portugueses serão resolvidos com as reformas estruturais que o governo se encontra a implementar: é preciso assegurar que o país sobrevive! Mesmo sobre a economia em geral e a política económica do governo, Passos Coelho nada acrescentou.

3) O ministro da Economia terá de sair sendo substituído por alguém com maior peso político. É que, apesar de o secretário da Energia que ousou enfrentar a EDP ter sido demitido, Passos Coelho continua a prometer aos portugueses que irá combater os lobbys....Como? Com um ministro fragilizado e um Miguel Relvas sempre atento às conveniências dos seus amigos empresários?

Em conclusão, um discurso insignificante, demasiado defensivo, que marcou um Congresso que serviu apenas para cumprir calendário. Foi um passeio à beira Tejo

João Lemos Esteves, aqui